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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AO SENHOR BAMBANG PRAYITO
,
NOVO EMBAIXADOR DA INDONÉSIA
JUNTO À SANTA SÉ POR OCASIÃO
DA APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS*

10 de Janeiro de 2004


Senhor Embaixador

Dou-lhe as calorosas boas-vindas a Vossa Excelência, no momento em que recebo as Cartas Credenciais que o designam Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República da Indonésia junto da Santa Sé. Esta ocasião renova as lembranças da visita que realizei ao seu País, em 1989, quando pude experimentar pessoalmente a hospitalidade, o calor e as ricas tradições culturais do povo indonésio. Com tais recordações, agradeço as saudações e os bons votos que Vossa Excelência me transmite da parte da Presidente, Senhora Megawati Soekarnoputri. É de bom grado que retribuo os seus amáveis sentimentos, enquanto lhe peço que transmita a ela, ao governo e ao povo da Indonésia, as expressões da minha estima e a certeza das preces pelo desenvolvimento e prosperidade permanentes da Nação.

Como o Senhor Embaixador frisou, o seu País e a Santa Sé gozam de vínculos de amizade e de cooperação que se estão a tornar cada vez mais vigorosos, em virtude dos nossos compromissos mútuos em vista de trabalhar pela paz e pelo bem-estar de todas as pessoas, a cada nível da sociedade. Trata-se de um empreendimento que empenha todos os homens e mulheres de boa vontade e, hoje, constitui uma tarefa de importância singular, dado que toda a família humana está à procura de meios eficazes para contrastar o terrorismo internacional. Não há dúvida de que este flagelo funesto se tornou mais virulento ao longo dos últimos anos, gerando massacres brutais que só servem para exacerbar situações já difíceis, aumentar as tensões e diminuir as possibilidades de paz entre os povos e as nações. Infelizmente, o seu próprio País experimentou de maneira directa estes hediondos actos de violência e de desrespeito pela inviolabilidade da vida humana inocente.

O profundo abalo sentido no mundo inteiro há quinze meses, quando uma bomba  terrorista explodiu em Bali, ainda permanece fortemente presente na mente e no coração da comunidade internacional.

Não obstante o desprezo pela vida humana, representado por estes ataques terroristas, a nossa resposta jamais deve ser de ódio e de vingança. E não são suficientes as medidas meramente punitivas ou repressivas. A luta contra o terrorismo deve ser enfrentada também a nível da política e da educação. É necessária a mobilização da política, para eliminar as causas subjacentes às situações de injustiça, que podem levar as pessoas a cometer actos de desespero e de violência.
É também necessário empenhar-se em programas de educação que se inspirem no respeito pela vida humana e o promovam em todas as circunstâncias. Só deste modo é que a unidade da raça humana prevalecerá, demonstrando que é mais poderosa do que as divisões contingentes que separam os indivíduos, os grupos e os povos (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2004, n. 8). E é precisamente a este respeito que as grandes religiões do mundo têm um importante papel a desempenhar.

Efectivamente, a compreensão e a cooperação entre as religiões empenham-se em grande medida na promoção de um sentido mais clarividente da unicidade de toda a humanidade, contribuindo para erradicar as causas sociais e culturais do terrorismo. De resto, estou convencido de que os líderes religiosos do islão, do cristianismo e do judaísmo devem ocupar a linha de vanguarda, ao condenar o terrorismo e negar aos terroristas qualquer forma de legitimidade religiosa ou moral. O diálogo deve ser promovido como forma de consciência mútua, intercâmbio de patrimónios espirituais e instrumento para uma superação pacífica das diferenças. Este é o único modo de garantir a unidade, assegurar a estabilidade e edificar a democracia, tão ardentemente almejada pela grande Nação que Vossa Excelência representa.

A este mesmo propósito, é-me grato observar o compromisso concreto do seu governo, em ordem a manter a harmonia entre os seguidores das diferentes religiões presentes na Indonésia. Com efeito, o mote representado no brasão nacional Bihneka Tungal Ika, "unidade na diversidade" exprime um importante princípio-guia, enquanto o seu País procura edificar e fortalecer uma sociedade fundamentada nos princípios democráticos da liberdade e da igualdade, independentemente da língua, da tradição étnica, da herança cultural ou da religião. As eleições presidenciais, programadas para o final do corrente ano um momento realmente histórico para a Indonésia oferecem uma excelente oportunidade para reforçar estes princípios nas instituições democráticas do País e para fomentar a plena participação de todos os cidadãos na vida pública da Nação. Este clima político pode demonstrar-se também como um grandioso benefício para a transformação permanente da sociedade indonésia, enquanto se realizam esforços em vista de eliminar a corrupção e de assegurar que sejam respeitados os direitos humanos de todos os cidadãos, de forma especial dos que pertencem às minorias étnicas e religiosas.

Por sua vez, a Igreja católica contribui activamente para a continuação do programa nacional de desenvolvimento de estruturas capazes de satisfazer as expectativas e as aspirações de todos os povos do arquipélago. O seu papel no campo da educação é de importância particular: embora os católicos representem apenas uma pequena porção do total da população, eles desenvolveram um sistema escolar abrangente e eficaz. O compromisso em prol da tolerância religiosa e do princípio fundamental da liberdade religiosa permite que a Igreja ofereça uma contribuição inestimável para a vida do País. Formulo votos a fim de que o Governo continue a assisti-lo no cumprimento da sua missão, respeitando a identidade católica das suas escolas e actividades educativas.

Senhor Embaixador, estou convicto de que a sua missão fortalecerá ainda mais os vínculos de compreensão e de amizade já existentes entre nós. Vossa Excelência pode ter a certeza de que a Santa Sé continuará a ser um parceiro comprometido do seu País, enquanto ele procura fazer progredir o seu próprio desenvolvimento e a fortalecer a estabilidade e a paz na Ásia e no seio da comunidade mais vasta das nações. Sobre Vossa Excelência e o querido povo da República da Indonésia, invoco cordialmente as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n. 5 p. 2.

 

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