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CARTA APOSTÓLICA

Santa Hildegarda de Bingen,
Monja Professa da Ordem de São Bento,
é proclamada Doutora da Igreja universal

BENTO PP. XVI
PARA PERPÉTUA MEMÓRIA

 

1. «Luz do seu povo e do seu tempo»: com estas palavras o Beato João Paulo II, Nosso venerado Predecessor, definiu Santa Hildegarda de Bingen em 1979, por ocasião do 800º aniversário da morte da Mística alemã. E verdadeiramente, no horizonte da história, esta grande figura de mulher se define com clareza límpida por santidade de vida e originalidade de doutrina. Aliás, como para qualquer experiência humana e teologal autêntica, a sua importância supera decididamente os confins de uma época e de uma sociedade e, não obstante a distância cronológica e cultural, o seu pensamento manifesta-se de actualidade perene.

Em Santa Hildegarda de Bingen revela-se uma extraordinária harmonia entre a doutrina e a vida quotidiana. Nela a busca da vontade de Deus na imitação de Cristo expressa-se como uma prática constante das virtudes, que ela exerce com suma generosidade e que alimenta nas raízes bíblicas, litúrgicas e patrísticas à luz da Regra de São Bento: resplandece nela de modo particular a prática perseverante da obediência, da simplicidade, da caridade e da hospitalidade. Nesta vontade de pertença total ao Senhor, a abadessa beneditina sabe englobar os seus dotes humanos ímpares, a sua perspicaz inteligência e a sua capacidade de penetração das realidades celestes.

2. Hildegarda nasceu em 1089 em Bermersheim, perto de Alzey, de pais de linhagem nobre e ricos proprietários de terras. Aos oito anos foi aceite como oblata na abadia beneditina de Disibodenberg, onde em 1115 emitiu a profissão religiosa. Com a morte de Jutta de Sponheim, por volta de 1136, Hildegarda foi chamada a suceder-lhe como magistra. De saúde física frágil, mas vigorosa no espírito, comprometeu-se profundamente por uma renovação adequada da vida religiosa. Fundamento da sua espiritualidade foi a regra beneditina, que indica o equilíbrio espiritual e a moderação ascética como caminhos para a santidade. Depois do aumento numérico das monjas, devido sobretudo à grande consideração pela sua pessoa, por volta de 1150 fundou um mosteiro na colina chamada Rupertsberg, nas proximidades de Bingen, para onde se transferiu juntamente com vinte irmãs de hábito. Em 1165 instituiu outro em Eibingen, na margem oposta do Reno. Foi abadessa de ambos.

Dentro dos muros claustrais ocupou-se do bem espiritual e material das irmãs de hábito, favorecendo de modo particular a vida comunitária, a cultura e a liturgia. Fora deles comprometeu-se activamente por robustecer a fé cristã e fortalecer a prática religiosa, contrastando as tendências heréticas dos cátaros, promovendo a reforma da Igreja com os escritos e a pregação, contribuindo para melhorar a disciplina e a vida do clero. A convite primeiro de Adriano IV e depois de Alexandre III, Hildegarda exerceu um apostolado fecundo — na época não muito frequente para uma mulher — efectuando algumas viagens não sem incómodos e dificuldades, para pregar até nas praças públicas e em várias igrejas-catedrais, como aconteceu entre outras em Colónia, Tréveros, Liege, Mogúncia, Metz, Bamberga e Würzburg. A profunda espiritualidade presente nos seus escritos exerce uma influência relevante quer nos fiéis, quer em grandes personalidades da sua época, abrangendo numa renovação incisiva a teologia, a liturgia, as ciências naturais e a música.

Atingida por uma doença no Verão de 1179, Hildegarda, circundada pelas irmãs de hábito, adormeceu no Senhor em odor de santidade no mosteiro do Rupertsberg, perto de Bingen, a 17 de Setembro de 1179.

3. Nos seus numerosos escritos Hildegarda dedicou-se exclusivamente a expor a revelação divina e a fazer conhecer Deus na limpidez do seu amor. A doutrina hildegardiana é considerada eminente tanto pela profundidade e rectidão das suas interpretações, como pela originalidade das suas visões. Os textos por ela compostos estão animados por uma autêntica «caridade intelectual» e evidenciam densidade e vigor na contemplação do mistério da Santíssima Trindade, da Encarnação, da Igreja, da humanidade, da natureza como criatura de Deus que se deve apreciar e respeitar.

Estas obras nascem de uma íntima experiência mística e propõem uma reflexão incisiva sobre o mistério de Deus. O Senhor tinha-a tornado partícipe, desde menina, de uma série de visões, cujo conteúdo ela ditou ao monge Volmar, seu secretário e conselheiro espiritual, e a Richardis de Strade, uma irmã monja. Mas é particularmente iluminante o juízo dado por São Bernardo de Claraval, que a encorajou, e sobretudo pelo Papa Eugénio III, que em 1147 a autorizou a escrever e a falar em público. A reflexão teológica permite que Hildegarda esquematize e compreenda, pelo menos em parte, o conteúdo das suas visões. Ela, além dos livros de teologia e de mística, compôs também obras de medicina e de ciências naturais. São numerosas também as cartas — cerca de quatrocentas — que enviou a pessoas simples, comunidades religiosas, papas, bispos e autoridades civis do seu tempo. Foi também compositora de música sacra. O corpus dos seus escritos, pela quantidade, qualidade e variedade dos interesses, não tem comparação com nenhuma outra autora da Idade Média.

As obras principais são o Scivias, o Liber vitae meritorum e o Liber divinorum operum. Todas narram as suas visões e o encargo recebido pelo Senhor de as transcrever. As Cartas, na consciência da autora, não revestem menor importância e testemunham a atenção de Hildegarda às vicissitudes do seu tempo, que ela interpreta à luz do mistério de Deus. A elas devem acrescentar-se 58 sermões, destinados exclusivamente às suas irmãs. Trata-se das Expositiones Evangeliorum, que contêm um comentário literal e moral a excertos evangélicos relacionados com as principais celebrações do ano litúrgico. Os trabalhos de carácter artístico e científico concentram-se de modo específico sobre a música com a Symphonia armoniae caelestium revelationum; sobre a medicina com o Liber subtilitatum diversarum naturarum creaturarum e o Causae et curae, sobre as ciências naturais com a Physica. Por fim observam-se também escritos de carácter linguístico, como a Lingua ignota e as Litterae ignotae, nos quais estão incluídas palavras numa língua desconhecida por ela inventada, mas composta prevalecentemente por fenómenos presentes na língua alemã.

A linguagem de Hildegarda, caracterizada por um estilo original e eficaz, recorre de bom grado a expressões poéticas de grande carga simbólica, com fulgurantes intuições, analogias incisivas e metáforas sugestivas.

4. Com aguda sensibilidade sapiencial e profética, Hildegarda fixa o olhar no evento da revelação. A sua averiguação desenvolve-se a partir da página bíblica, à qual, nas fases sucessivas, permanece firmemente ancorada. O olhar da Mística de Bingen não se limita a enfrentar questões individuais, mas pretende oferecer uma síntese de toda a fé cristã. Por conseguinte, nas suas visões e na reflexão sucessiva, ela compendia a história da salvação, desde o início do universo até à consumação escatológica. A decisão de Deus de fazer a obra da criação é a primeira etapa deste imenso percurso, que, à luz da Sagrada Escritura, se desenvolve da constituição da hierarquia celeste até à queda dos anjos rebeldes e ao pecado dos progenitores. A este quadro inicial segue-se a encarnação redentora do Filho de Deus, a acção da Igreja que continua no tempo o mistério da encarnação e a luta contra satanás. O advento definitivo do reino de Deus e o juízo universal serão o coroamento desta obra.

Hildegarda apresenta a si mesma e a nós a questão essencial se é possível conhecer Deus: é esta a tarefa fundamental da teologia. A sua resposta é plenamente positiva: mediante a fé, como através de uma porta, o homem é capaz de se aproximar deste conhecimento. Contudo Deus conserva sempre a sua auréola de mistério e de incompreensibilidade. Ele torna-se inteligível na criação, mas isto, por sua vez, não é compreendido plenamente se for separado de Deus. Com efeito, a natureza considerada em si fornece só informações parciais, que com frequência se tornam ocasiões de erros e abusos. Por isso, também na dinâmica cognitiva natural é necessária a fé, senão o conhecimento permanece limitado, incompleto e desviante.

A criação de um acto de amor, graças ao qual o mundo pode emergir do nada: portanto toda a escala das criaturas é atravessada, como a torrente de um rio, pela caridade divina. Entre todas as criaturas, Deus ama de modo particular o homem e confere-lhe uma extraordinária dignidade, doando-lhe aquela glória que os anjos rebeldes perderam. Deste modo a humanidade pode ser considerada como o décimo coro da hierarquia angélica. Pois bem, o homem é capaz de conhecer Deus em si mesmo, ou seja, a sua natureza indivisa na trindade das pessoas. Hildegarda aproxima-se do mistério da Santíssima Trindade na linha já proposta por Santo Agostinho: por analogia com a própria estrutura de ser racional, o homem é capaz de ter pelo menos uma imagem da realidade íntima de Deus. Mas é só na economia da encarnação e da vicissitude humana do Filho de Deus que este mistério se torna acessível à fé e à consciência do homem. A santa e inefável Trindade na suma unidade estava escondida aos servos da lei antiga. Mas na nova graça era revelada a quantos foram libertados da servidão. A trindade revelou-se de modo particular na cruz do Filho.

Um segundo «lugar» no qual Deus se torna cognoscível é a sua palavra contida nos livros do Antigo e do Novo Testamento. Precisamente porque Deus «fala», o homem é chamado a ouvi-lo. Este conceito oferece a Hildegarda a ocasião para expor a sua doutrina sobre o canto, de modo particular o litúrgico. O som da palavra de Deus cria vida e manifesta-se nas criaturas. Também os seres privados de racionalidade, graças à palavra criadora são envolvidos no dinamismo criatural. Mas, naturalmente, é o homem aquela criatura que, com a sua voz, pode responder à voz do Criador. E pode fazê-lo de dois modos principais: in voce oris, ou seja, na celebração da liturgia, e in voce cordis, isto é, com uma vida virtuosa e santa. Por conseguinte, toda a vida humana pode ser interpretada como uma harmonia e uma sinfonia.

5. A antropologia de Hildegarda tem início na página bíblica da criação do homem (Gn 1, 26), feito à imagem e semelhança de Deus. O homem, segundo a cosmologia hildegardiana fundada na Bíblia, encerra todos os elementos do mundo, porque o universo inteiro se resume nele, que é formado da própria matéria da criação. Por isso ele pode de modo consciente entrar em relação com Deus. Isto acontece não por uma visão directa, mas, seguindo a célebre expressão paulina, «como num espelho» (1 Cor 13, 12). A imagem divina no homem consiste na sua racionalidade, estruturada em intelecto e vontade. Graças ao intelecto o homem é capaz de distinguir o bem e o mal, graças à vontade ele é estimulado à acção.

O homem é visto como unidade de corpo e alma. Observa-se na Mística alemã um apreço positivo da corporeidade e, também nos aspectos de fragilidade que o corpo manifesta, ela é capaz de captar um valor providencial: o corpo não é um peso do qual se libertar e, até quando é débil e frágil, «educa» o homem para o sentido da criaturalidade e da humanidade, protegendo-o da suberba e da arrogância. Numa visão Hildegarda contempla as almas dos bem-aventurados do paraíso, que estão à espera de se unirem aos seus corpos. De facto, como para o corpo de Cristo, também os nossos corpos estão orientados para a ressurreição gloriosa, para uma profunda transformação para a vida eterna. A mesma visão de Deus, na qual consiste a vida eterna, não se pode obter de modo definitivo sem o corpo.

O homem existe na forma masculina e feminina. Hildegarda reconhece que nesta estrutura ontológica da condição humana se radica uma relação de reciprocidade e uma substancial igualdade entre homem e mulher. Mas na humanidade habita também o mistério do pecado e ele manifesta-se pela primeira vez na história precisamente nesta relação entre Adão e Eva. Ao contrário de outros autores medievais, que viam a causa da queda na debilidade de Eva, Hildegarda vê-a sobretudo na excessiva paixão de Adão em relação a ela.

Também na sua condição de pecador, o homem continua a ser destinatário do amor de Deus, porque este amor é incondicionado e, depois da queda, assume o rosto da misericórida. Até a punição que Deus inflige ao homem e à mulher faz sobressair o amor misericordioso do Criador. Neste sentido, a descrição mais exacta da criatura humana é a de um ser a caminho, homo viator. Nesta peregrinação rumo à pátria, o homem é chamado a uma luta para poder escolher constantemente o bem e evitar o mal.

A escolha constante do bem produz uma existência virtuosa. O Filho de Deus feito homem é o sujeito de todas as virtudes, por isso a imitação de Cristo consiste precisamente numa existência virtuosa na comunhão com Cristo. A força da virtude deriva do Espírito Santo, infundido nos corações dos crentes, que torna possível um comportamento constantemente virtuoso: é esta a finalidade da existência humana. O homem, deste modo, experimenta a sua perfeição cristiforme.

6. Para poder alcançar esta finalidade, o Senhor doou os sacramentos à sua Igreja. A salvação e a perfeição do homem, de facto, não se realizam só mediante um esforço da vontade, mas através dos dons da graça que Deus concede na Igreja.

A própria Igreja é o primeiro sacramento que Deus coloca no mundo para que comunique aos homens a salvação. Ela, que é a «construção das almas viventes», pode ser justamente considerada como virgem, esposa e mãe e, por conseguinte, é estreitamente assimilada à figura histórica e mística da Mãe de Deus. A Igreja comunica a salvação antes de tudo conservando e anunciando os dois grandes mistérios da Trindade e da Encarnação, que são como os dois «sacramentos primários», depois mediante a administração dos outros sacramentos. O ápice da sacramentalidade da Igreja é a eucaristia. Os sacramentos produzem a santificação dos crentes, a salvação e a purificação dos pecados, a redenção, a caridade e todas as outras virtudes. Mas, mais uma vez, a Igreja vive porque Deus nela manifesta o seu amor intratrinitário, que se revelou em Cristo. O Senhor Jesus é o mediador por excelência. Do seio trinitário ele vem ao encontro do homem e do seio de Maria ele vai ao encontro de Deus: como Filho de Deus é o amor encarnado, como Filho de Maria é o representante da humanidade diante do trono de Deus.

O homem pode chegar até a experimentar Deus. De facto, a relação com ele não se consome unicamente na esfera da racionalidade, mas envolve de modo total a pessoa. Todos os sentidos externos e internos do homem estão interessados na experiência de Deus: «De facto, o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus para que aja mediante os cinco sentidos do seu corpo; graças a eles não se sente separado e é capaz de conhecer, entender e realizar o que deve fazer (...) e exactamente por isso, pelo facto de que o homem é inteligente, conhece as criaturas, e assim através das criaturas e das grandes obras, que com dificuldade consegue entender com os seus cinco sentidos, conhece Deus, aquele Deus que só pode ser visto com os olhos da fé» (Explanatio Symboli Sancti Athanasii: PL 197, 1073). Este caminho experiencial, mais uma vez, encontra a sua plenitude na participação dos sacramentos.

Hildegarda vê também as contradições presentes na vida de cada um dos fiéis e denuncia as situações mais deploráveis. De modo especial, ela ressalta como o individualismo na doutrina e na prática por parte dos leigos assim como dos ministros ordenados seja uma expressão de soberba e constitua o obstáculo principal à missão evangelizadora da Igreja em relação aos não cristãos.

Um dos ápices do magistério de Hildegarda é a exortação urgente a uma vida virtuosa que ela dirige a quem se compromete num estado de consagração. A sua compreensão da vida consagrada é uma verdadeira «metafísica teológica», porque firmemente radicada na virtude teologal da fé, que é a fonte e a constante motivação para se comprometer profundamente na obediência, na pobreza e na castidade. Ao realizar os conselhos evangélicos a pessoa consagrada partilha a experiência de Cristo pobre, casto e obediente e segue os seus passos na existência diária. Isto é o essencial da vida consagrada.

7. A eminente doutrina de Hildegarda faz ressoar o ensinamento dos apóstolos, a literatura patrística e os autores contemporâneos, enquanto encontra na Regola de São Bento de Núrcia um ponto de referência constante. A liturgia monástica e a interiorização da Sagrada Escritura constituem as linhas-guia do seu pensamento, que, concentrando-se no mistério da Encarnação, expressa-se numa profunda unidade de estilo e conteúdo que percorre intimamente todos os seus escritos.

O ensinamento da santa monja beneditina coloca-se como uma guia para o Homo viator. A sua mensagem é extraordinariamente actual no mundo contemporâneo, de modo especial sensível ao conjunto dos valores propostos e vividos por ela. Pensamos, por exemplo, na capacidade carismática e especulativa de Hildegarda, que se apresenta como um incentivo vivaz à pesquisa teológica; na sua reflexão sobre o mistério de Cristo, considerado na sua beleza; no diálogo da Igreja e da teologia com a cultura, a ciência e a arte contemporânea; no ideal de vida consagrada, como possibilidade de realização humana, na valorização da liturgia, como celebração da vida; na ideia de reforma da Igreja, não como estéril mudança das estruturas, mas como conversão do coração; na sua sensibilidade pela natureza, cujas leis devem ser tuteladas e não violadas.

Por isso a atribuição do título de Doutor da Igreja universal a Hildegarda de Bingen tem um grande significado para o mundo de hoje e uma extraordinária importância para as mulheres. Em Hildegarda resultam expressos os valores mais nobres da feminilidade: por isso também a presença da mulher na Igreja e na sociedade é iluminada pela sua figura, tanto na óptica da pesquisa científica como na da acção pastoral. A sua capacidade de falar a quantos estão distantes da fé e da Igreja fazem de Hildegarda uma testemunha credível da nova evangelização.

Em virtude da sua fama de santidade e da sua eminente doutrina, a 6 de Março de 1979 o Senhor Cardeal Joseph Höffner, Arcebispo de Colónia e Presidente da Conferência Episcopal Alemã, juntamente com os Cardeais, Arcebispos e Bispos da mesma Conferência, entre os quais estávamos também Nós como Cardeal Arcebispo de Munique e Frisinga, submeteu ao Beato João Paulo II a Súplica, para que Hildegarda de Bingen fosse declarada Doutora da Igreja universal. Na Súplica, o Em.mo Purpurado ressaltava a ortodoxia da doutrina de Hildegarda, reconhecida no século XII pelo Papa Eugénio III, a sua santidade constantemente sentida e celebrada pelo povo, a importância dos seus tratados. A esta Súplica da Conferência Episcopal Alemã, com os anos juntaram-se outras, primeira de todas a das Monjas do mosteiro de Eibingen, a ela intitulado. Portanto, ao desejo comum do Povo de Deus que Hildegarda fosse oficialmente proclamada santa acrescentou-se o pedido que seja também declarada «Doutora da Igreja universal».

Com o nosso assentimento, portanto, a Congregação para as Causas dos Santos diligentemente preparou uma Positio super Canonizatione et Concessione tituli Doctoris Ecclesiae universalis para a Mística de Bingen. Tratando-se de famosa mestra de teologia, que foi objecto de muitos estudos influentes, concedemos a dispensa de quanto disposto no art. 73 da Constituição Apostólica Pastor bonus. Por conseguinte o caso foi examinado com êxito unanimemente positivo pelos Padres Cardeais e Bispos reunidos na Sessão Plenária de 20 de Março de 2012, sendo Ponente da Causa o Em.mo Card. Angelo Amato, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Na Audiência de 10 de Maio de 2012 o mesmo Cardeal Amato informou-Nos pormenorizadamente sobre o status quaestionis e sobre os votos concordes dos Padres da mencionada Sessão Plenária da Congregação para as Causas dos Santos. A 27 de Maio de 2012, Domingo de Pentecostes, tivemos a alegria de comunicar na Praça de São Pedro à multidão dos peregrinos que vieram de todo o mundo a notícia do conferimento do título de Doutora da Igreja universal a Santa Hildegarda de Bingen e a São João de Ávila no início da Assembleia do Sínodo dos Bispos e na vigília do Ano da fé.

Portanto, hoje com a ajuda de Deus e a aprovação de toda a Igreja, isto é realizado. Na praça de São Pedro, na presença de muitos cardeais e prelados da Cúria Romana e da Igreja católica, confirmando o que foi realizado e satisfazendo de boa vontade os desejos dos suplicantes, durante o sacrifício eucarístico pronunciámos estas palavras:

«Nós, acolhendo o desejo de muitos Irmãos no Episcopado e de inúmeros fiéis do mundo inteiro, depois de ter recebido o parecer da Congregação para as Causas dos Santos, depois de ter reflectido longamente e ter alcançado uma plena e segura convicção, com a plenitude da autoridade apostólica declaramos São João de Ávila, sacerdote diocesano, e Santa Hildegarda de Bingen, monja professa da Ordem de São Bento, Doutores da Igreja universal, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo».

Isto decretamos e ordenamos, estabelecendo que esta carta seja e permaneça sempre certa, válida e eficaz, e que produza e obtenha os seus efeitos plenos e íntegros; e assim convenientemente se julgue e se defina; e seja vão e sem fundamento quanto diversamente sobre isto possa ser tentado seja por quem for com qualquer autoridade, cientemente ou por ignorância.

Dado em Roma junto de São Pedro com o selo do Pescador a 7 de Outubro de 2012 oitavo ano do nosso Pontificado.

 

PAPA BENTO XVI

 

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