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PAPA FRANCISCO

MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE

 

A alegria da memória cristã

 

Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 40 de 06 de Outubro de 2013

 

Quando o cristão transforma a memória da história da salvação realizada por Jesus em simples recordação, perde de vista o valor de um dos princípios fundamentais da fé cristã: a memória que se faz alegria. E assim, vive a Eucaristia, isto é, a memória que faz a Igreja, como um evento social que causa tédio, disse o Papa Francisco ao comentar a primeira leitura da missa celebrada na manhã de quinta-feira, 3 de Outubro, na capela de Santa Marta.

Todos nós temos a memória da salvação, garantiu o Papa. Mas, perguntou, «esta memória está próxima de nós? Ou é uma memória meio distante, um pouco espalhada, um pouco arcaica, quase de museu?». Quando a memória não está próxima, quando já não fazemos experiência da memória, aos poucos ela transforma-se numa «simples recordação. Por isso, Moisés dizia ao povo: todos os anos ide ao templo, todos os anos apresentai os frutos da terra, mas todos os anos recordai-vos de onde saístes, e do modo como fostes salvos». Sentir próxima a memória da nossa salvação acende a alegria em nós. «E esta — especificou o Bispo de Roma — é a alegria do povo. É um princípio da vida cristã. Os levitas tranquilizavam o povo que chorava de emoção e repetiam: não vos entristeçais, não vos entristeçais, porque a alegria, aquilo que sentis agora, é a alegria do Senhor e é a vossa força».

E no entanto muitas vezes «nós cristãos temos medo da festa» e com frequência a vida faz com que nos afastemos da nossa memória; «só nos leva a manter a recordação da salvação, não a memória que é viva. A Igreja — realçou o Papa Francisco — faz a sua memória, aquela que faremos agora, a memória da Paixão do Senhor. O mesmo Senhor que nos disse: fazei isto em memória de Mim. Mas também acontece que afastamos esta memória e a transformamos numa recordação, num evento banal. Todas as semanas vamos à igreja, ou quando morre um conhecido e vamos ao seu funeral. E esta memória muitas vezes chateia-nos, porque não está próxima. É triste: a missa às vezes transforma-se num evento social».

Isto significa que não estamos próximos da memória da Igreja, que é a presença do Senhor diante de nós. «Peçamos ao Senhor — concluiu o Santo Padre — a graça de ter sempre a sua memória próxima de nós. Uma memória próxima e não domesticada pelo hábito, por tantas coisas, nem distante como uma simples recordação».

Na conclusão da missa de terça-feira, 1 de Outubro, o Papa falou sobre a reunião, iniciada nesse mesmo dia no Vaticano, dos cardeais consultores por ele nomeados, pedindo: «Senhor, que o nosso trabalho hodierno nos torne mais humildes, mais mansos, mais pacientes e mais confiantes em Deus. Para que assim a Igreja possa dar um bom testemunho ao povo. E vendo o povo de Deus, vendo a Igreja, sintam a vontade de vir connosco».

Anteriormente na homilia o Papa tinha recordado a memória de santa Teresa do Menino Jesus, padroeira das missões, convidando a reflectir sobre o seu espírito de humildade, de ternura e de bondade. É este espírito manso característico do Senhor que ele quer de todos nós. O Papa propôs a força e a actualidade da figura de santa Teresa do Menino Jesus: «A Igreja sábia canonizou esta santa — humilde, pequena, confiante em Deus, mansa — padroeira das missões. Não se entende isto. A força do Evangelho consiste justamente nisto, porque o Evangelho alcança o ponto mais alto precisamente na humildade de Jesus. Humildade que se torna humilhação. E a força do Evangelho está na humildade. Humildade de criança que se deixa guiar pelo amor e pela ternura do Pai».

Na missa de segunda-feira, 30 de Setembro, o Papa Francisco reflectiu sobre a atmosfera que se respira quando a Igreja sabe colher a presença constante do Senhor. Uma atmosfera de paz, justamente, na qual reina a alegria do Senhor. Os episódios de referência foram tirados do livro de Zacarias (8, 1-8) e do Evangelho de Lucas (9, 46-50) que narra a disputa surgida entre os apóstolos sobre quem deles era o maior. Nos dois trechos o Pontífice vê uma espécie de debate, ou melhor, um intercâmbio de opiniões sobre a organização da Igreja. Mas, recordou, «o Senhor gosta de surpreender» e assim «muda o centro do debate»: indica um menino ao seu lado, dizendo: «Quem acolher este menino em meu nome, é a mim que acolhe, pois quem for o mais pequenino entre vós, esse é grande». E os discípulos não entendiam.

«Na primeira leitura — especificou o Papa — ouvimos a promessa de Deus ao seu povo: voltarei a Sião, habitarei em Jerusalém e Jerusalém será chamada cidade fiel. O Senhor voltará». Mas «quais são os sinais de que o Senhor voltou? Uma boa organização? Um governo que vá em frente limpo e perfeito?», perguntou-se. Para responder, o Santo Padre propôs a imagem da praça de Jerusalém cheia de velhos e de crianças. Portanto, «aqueles que deixamos de lado quando pensamos num programa de organização — afirmou — são o sinal da presença de Deus: os velhos e as crianças. Os velhos porque trazem consigo a sabedoria, a sabedoria da sua vida, a sabedoria da tradição, a sabedoria da História, a sabedoria da lei de Deus; e as crianças, porque são também a força, o futuro, aqueles que levarão em frente o futuro com a própria força e com a sua vida».

O futuro de um povo — afirmou o Papa Francisco — «consiste precisamente nisto, nos velhos e nas crianças. E um povo que não cuida dos seus velhos nem das suas crianças não tem futuro, porque não terá memória nem promessa. Os velhos e as crianças são o futuro de um povo».

Infelizmente, disse, é um hábito triste pôr de lado as crianças «com um rebuçado ou com um brinquedo». Assim, como não deixar que também os velhos falem e «ignorar os seus conselhos». No entanto, Jesus recomenda que se preste a máxima atenção às crianças, que não as escandalizem: e recorda que «o único mandamento que traz consigo uma bênção é precisamente o quarto, o dos pais, os velhos: honrar».

«A palavra criança — concluiu o bispo de Roma — faz-nos pensar na alegria. É a alegria do Senhor. E os anciãos sentados com o bastão na mão, fazem-nos pensar na paz. Paz e alegria, este é o ar da Igreja».

 



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