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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO MÉXICO 
(12-18 DE FEVEREIRO DE 2016)

VISITA AO CENTRO DE READAPTAÇÃO SOCIAL  N.3 DE CIUDAD JUÁREZ

Quarta-feira, 17 de Fevereiro de 2016

[Multimídia]


 

Palavras improvisadas na Capela da Prisão

Bom dia!

Obrigado pela vossa presença aqui! Obrigado por todo o bem que aqui fazeis! Mil maneiras de fazer bem, que não se vêem.

E cruzais-vos com muita fragilidade. Por isso, quis trazer esta imagem feita com o que há de mais frágil. O cristal é o material mais frágil, quebra imediatamente. E Cristo na Cruz é a maior fragilidade da humanidade e, no entanto, é com esta fragilidade que nos salva, ajuda, faz ir para diante, abre as portas da esperança.

Desejo que cada um de vós, com a bênção da Virgem e contemplando a fragilidade em Cristo – que Se fez pecado, Se fez morte para nos salvar –, saibais semear sementes de esperança e de ressurreição.

[recitação da Ave Maria e Bênção Apostólica]

Nossa Senhora de Guadalupe [R: Rogai por nós]!

São Maximiliano Kolbe [R: Rogai por nós]!

E não vos esqueçais de rezar por mim.

* * *

DISCURSO DO SANTO PADRE

Queridos irmãos e irmãs!

Estou a concluir a minha visita ao México. Não queria ir embora sem vos saudar, sem celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco.

De coração agradeço as palavras de saudação que me dirigistes, nelas manifestando tanta esperança e tantas aspirações, mas também tantas amarguras, medos e dúvidas.

Durante a viagem à África, na cidade de Bangui, pude abrir a primeira Porta da Misericórdia para o mundo inteiro (deste Jubileu, quero dizer; porque a primeira porta da Misericórdia abriu-a Deus nosso Pai ao enviar-nos o seu Filho Jesus). Hoje, no vosso meio e convosco, quero reafirmar uma vez mais a confiança a que Jesus nos impele: a misericórdia que abraça a todos, em todos os cantos da terra. Não há lugar onde a sua misericórdia não possa chegar, não há espaço nem pessoa que ela não possa tocar.

Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é lembrar o caminho que devemos urgentemente empreender para romper o ciclo vicioso da violência e da delinquência. Já se perderam várias décadas pensando e crendo que tudo se resolve isolando, separando, encarcerando, livrando-nos dos problemas, acreditando que estas medidas resolvem verdadeiramente os problemas. Esquecemo-nos de concentrar-nos naquilo que realmente deve ser a nossa verdadeira preocupação: a vida das pessoas; as suas vidas, as das suas famílias, as daqueles que também sofreram por causa deste ciclo vicioso da violência.

A misericórdia divina lembra-nos que as prisões são um sintoma de como estamos na sociedade; em muitos casos são um sintoma de silêncios e de omissões provocadas pela cultura do descarte. São sintoma duma cultura que deixou de apostar na vida, duma sociedade que, pouco a pouco, foi abandonando os seus filhos.

A misericórdia lembra-nos que a reinserção não começa aqui dentro destes muros; começa antes, começa lá fora nas ruas da cidade. A reinserção ou reabilitação começa criando um sistema que poderíamos chamar de saúde social, isto é, uma sociedade que procure não adoecer contaminando as relações no bairro, nas escolas, nas praças, nas ruas, nos lares, em todo o espectro social. Um sistema de saúde social que vise gerar uma cultura que seja eficaz procurando prevenir aquelas situações, aqueles caminhos que acabam por ferir e deteriorar o tecido social.

Às vezes parece que as prisões se proponham mais impedir as pessoas de continuar a cometer delitos do que promover processos de reinserção que permitam enfrentar os problemas sociais, psicológicos e familiares que levaram uma pessoa a determinada atitude. O problema da segurança não se resolve apenas encarcerando, mas é um apelo a intervir para enfrentar as causas estruturais e culturais da insegurança que afectam todo o tecido social.

A preocupação de Jesus pelos famintos, os sedentos, os sem-abrigo ou os presos (Mt 25, 34-40) pretendia expressar as entranhas de misericórdia do Pai, que se tornam um imperativo moral para toda a sociedade que deseje possuir as condições necessárias para uma convivência melhor. Na capacidade que uma sociedade tem de integrar os seus pobres, os seus doentes ou os seus presos, reside a possibilidade de estes curarem as suas feridas e serem construtores duma boa convivência. A reinserção social começa com a frequência da escola por todos os nossos filhos e com um emprego digno para as suas famílias, com a criação de espaços públicos para os tempos livres e a recreação, com a habilitação das instâncias de participação cívica, os serviços de saúde, o acesso aos serviços básicos… para citar apenas algumas medidas. Aí começa todo o processo de reinserção.

Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é aprender a não ficar prisioneiros do passado, de ontem; é aprender a abrir a porta para o futuro, para o amanhã; é acreditar que as coisas podem tomar outro rumo. Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é convidar-vos a levantar a cabeça e empenhar-vos para obter o tão ansiado espaço de liberdade. Celebrar o Jubileu da Misericórdia convosco é repetir esta frase que ouvimos há pouco, dita justamente e com muita força: «Quando pronunciaram a minha sentença, alguém me disse: “Não te perguntes por que estás aqui, mas para quê”». E que este «para quê» nos leve para diante, que este «para quê» nos faça saltar os precipícios deste engano social que pensa que a segurança e a ordem só se conseguem encarcerando.

Sabemos que não se pode voltar atrás, sabemos que o que foi feito, feito está; mas eu quis celebrar convosco o Jubileu da Misericórdia para que fique claro que isso não significa que não haja a possibilidade de escrever uma página nova daqui para a frente: «para quê». Vós sofreis a angústia da queda (oxalá todos nós sentíssemos a mesma angústia pelas quedas escondidas e dissimuladas!), sentis o arrependimento pelos vossos actos e sei que em muitos casos, por entre grandes limitações, a partir da vossa solidão procurais refazer essa vida. Conhecestes a força do sofrimento e do pecado; não vos esqueçais, porém, que tendes ao vosso alcance também a força da ressurreição, a força da misericórdia divina que faz novas todas as coisas. Agora é possível que vos toque a parte mais dura, mais difícil, mas talvez seja a que produz mais fruto; a partir daqui de dentro, lutai para inverter as situações que geram mais exclusão. Falai com os vossos queridos, contai-lhes a vossa experiência, ajudai a travar o ciclo vicioso da violência e da exclusão. Quem sofreu o máximo da amargura a ponto de poder afirmar que «experimentou o inferno», pode tornar-se um profeta na sociedade. Trabalhai para que esta sociedade que usa e joga fora as pessoas não continue a fazer mais vítimas.

E, ao dizer-vos estas coisas, recordo as palavras de Jesus: «Quem de vós estiver sem pecadão atire a primeira pedra», e teria de me ir embora. Ao dizer-vos estas coisas, não o faço como quem fala do alto da cátedra, com o dedo apontado; faço-o a partir da experiência das minhas próprias feridas, erros e pecados, de que o Senhor me quis perdoar e reeducar. Faço-o com a consciência de que, sem a sua graça e a minha vigilância, poderia voltar a repeti-los. Irmãos, ao entrar numa prisão, sempre me pergunto: «Porquê eles e não eu?» E é um mistério da misericórdia divina; mas é precisamente esta misericórdia divina que todos estamos a celebrar hoje com os olhos fixos no amanhã, na esperança.

Quereria também encorajar o pessoal que trabalha neste Centro ou noutros semelhantes: os directores, os agentes da Polícia penitenciária, todos os que realizam qualquer tipo de assistência neste Centro. E agradeço o esforço dos capelães, das pessoas consagradas, dos leigos, que se dedicam a manter viva a esperança do Evangelho da Misericórdia na prisão, os pastores, todos aqueles que vêm até junto de vós para vos dar a Palavra de Deus. Todos vós – não vos esqueçais! – podeis ser sinal das entranhas de misericórdia do Pai. Precisamos uns dos outros; há pouco dizia-nos a nossa irmã, recordando a Carta aos Hebreus: Sintam-se presos com eles.

Antes de vos dar a bênção, gostaria que rezássemos em silêncio, todos juntos; cada qual sabe o que há-de dizer ao Senhor, cada qual sabe de que pedir perdão. Mas peço-vos também que, nesta oração de silêncio, alarguemos o coração para poder perdoar à sociedade que não soube ajudar-nos e muitas vezes nos arrastou para os erros. Cada um, na intimidade do seu coração, peça a Deus que nos ajude a acreditar na sua misericórdia. Rezamos em silêncio…

E abramos o nosso coração para receber a bênção do Senhor.

Que o Senhor vos abençoe e proteja, faça brilhar o seu rosto sobre vós e vos dê a sua graça, vos mostre o seu rosto e conceda a paz. Amen.

E peço que não vos esqueçais de rezar por mim. Obrigado!

 



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