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PEREGRINAÇÃO JUBILAR DO PAPA JOÃO PAULO II À GRÉCIA, SÍRIA E MALTA
(4-9 DE MAIO DE 2001)

CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA NO PALÁCIO DE DESPORTOS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Atenas, 5 de Maio de 2001

 

Queridos Irmãos e Irmãs

1. "O que venerais sem conhecer é que eu vos anuncio" (Act 17, 23).

Narradas nos Actos dos Apóstolos, estas palavras de Paulo pronunciadas no Areópago de Atenas constituem um dos primeiros anúncios da fé cristã na Europa. "Se se pensa no papel que a Grécia teve na formação da cultura antiga, compreende-se a razão por que aquele discurso de Paulo pode considerar-se, de algum modo, o próprio símbolo do encontro do Evangelho com a cultura humana" (Carta Sobre a peregrinação aos Lugares relacionados com a história da salvação, n. 9).

"Aos santificados em Jesus Cristo, chamados à santidade, com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de Jesus Cristo Senhor deles e nosso: Graça e paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo" (1 Cor 1, 2-3). Com estas palavras dirigidas pelo Apóstolo à comunidade de Corinto, saúdo-vos com afecto a todos vós, Bispos, Sacerdotes e leigos católicos que viveis na Grécia. Em primeiro lugar, agradeço a D. Fóscolos, Arcebispo católico de Atenas e Presidente da Conferência Episcopal da Grécia, o seu acolhimento e as suas gentis palavras. Dirijo também a minha saudação a todos os Cardeais, Bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas presentes nesta celebração. Reunidos esta manhã para a celebração eucarística, pediremos ao Apóstolos Paulo que nos dê o seu fervor na fé e no anúncio do Evangelho a todas as nações, bem como a sua solicitude pela unidade da Igreja. Alegro-me com a presença na Divina Liturgia de fiéis de outras confissões cristãs, que testemunham também a atenção que prestam à vida da comunidade católica e a sua comum fraternidade em Cristo.

2. Paulo recorda claramente que não podemos circunscrever Deus às nossas maneiras de ver e de agir totalmente humanas. Se desejamos acolher o Senhor, somos chamados à conversão. Eis o caminho que nos é proposto, caminho que nos faz seguir Cristo a fim de viver como ele, filhos no Filho. Então podemos considerar o nosso caminho pessoal e o da Igreja como uma experiência pascal; é preciso que nos purifiquemos para estarmos plenamente em sintonia com a vontade divina, aceitando que Deus, mediante a sua graça, transforme o nosso ser e a nossa existência, como no caso de Paulo que, sendo perseguidor se tornou missionário (cf. Gal 1, 11-24). Vivemos também a prova da Sexta-Feira Santa, com os seus sofrimentos, com as noites da fé, com as incompreensões recíprocas. Mas também vivemos momentos de luz, semelhantes ao alvorecer da Páscoa, quando o Ressuscitado nos comunica a sua alegria e faz com que cheguemos à verdade total. Encarando desta forma a nossa história pessoal e a história da Igreja, não podemos deixar de ter esperança, com a certeza de que o Mestre da história nos conduz por caminhos que só Ele conhece. Peçamos ao Espírito Santo que nos incentive a sermos, através das nossas palavras e acções, testemunhas da Boa Nova e da caridade de Deus! Com efeito, é o Espírito que suscita o fervor missionário na sua Igreja, é Ele quem chama e quem envia, e o verdadeiro apóstolo é em primeiro lugar um homem "à escuta", um servidor disponível para a acção de Deus.

3. Recordar em Atenas o caminho e a acção de Paulo, é como ser convidados a anunciar o Evangelho até aos extremos confins da terra, propondo aos nossos contemporâneos a salvação dada por Cristo e mostrando-lhes os caminhos da santidade e o orientação moral recta que constituem as respostas à chamada do Senhor. O Evangelho é uma Boa Nova universal, que todos os povos podem compreender.

Ao dirigir-se aos atenienses, São Paulo não esconde nada da fé que recebeu; ele deve, como todos os apóstolos, conservar fielmente o seu depósito (cf. 2 Tim 1, 14). Se ele parte das referências habituais dos seus ouvintes e das suas maneiras de pensar, é para fazer com que eles compreendam melhor o Evangelho que lhes quer levar. Paulo baseia-se no conhecimento natural de Deus e no profundo desejo espiritual que os seus interlocutores podem sentir, para os preparar para aceitarem a revelação do Deus único e verdadeiro.

Se ele pôde citar perante os atenienses os autores da Antiguidade clássica, foi porque, de uma certa forma, a sua cultura pessoal tinha sido forjada pelo helenismo. Por conseguinte, dele se serviu para anunciar o Evangelho com palavras que podem arrebatar os seus ouvintes (cf. Act 17, 17). Que lição! Para anunciar a Boa Nova aos homens do nosso tempo, a Igreja deve estar atenta aos diferentes aspectos das suas culturas e aos seus meios de comunicação, sem que isto leve a alterar a sua mensagem ou a diminuir o sentido do seu alcance. "O cristianismo do terceiro milénio deverá responder cada vez melhor a esta exigência de inculturação" (Novo millennio ineunte, 40). O discurso magistral de Paulo convida os discípulos de Cristo a iniciar um diálogo verdadeiramente missionário com os seus contemporâneos, no respeito do que eles são, mas também com um propósito claro e forte do Evangelho, bem como das suas implicações e das suas exigências na vida das pessoas.

4. Irmãos e Irmãs, o vosso País goza de uma longa tradição de sabedoria e de humanismo. Desde as origens do cristianismo, os filósofos empenharam-se por "mostrar a ligação entre a razão e a religião. [...] Esboçou-se assim um caminho que, saindo das antigas tradições particulares, levava a um desenvolvimento que correspondia às exigências da razão universal" (Fides et ratio, 36). Este trabalho dos filósofos e dos primeiros apologistas cristãos permitiu sucessivamente iniciar, no seguimento de São Paulo e do seu discurso em Atenas, um diálogo fecundo entre a fé cristã e a filosofia.

Seguindo o exemplo de São Paulo e das primeiras comunidades, é urgente criar ocasiões de diálogo com os nossos contemporâneos, sobretudo nos lugares em que se decide o futuro do homem e da humanidade, para que as decisões tomadas não sejam condicionadas apenas pelos interesses políticos e económicos que não têm em conta a dignidade das pessoas e as exigências que dela derivam, mas que seja para vós como um suplemento de alma que recorde o lugar insigne e a dignidade do homem. Os areópagos que hoje solicitam o testemunho dos cristãos são numerosos (cf. Redemptoris missio, 37); encorajo-vos a estar presentes no mundo; como o profeta Isaías, os cristãos estabelecem-se como sentinelas em cima da muralha (cf. Is 21, 11-12), a fim de discernir as orientações humanas das actuais situações, de descobrir na sociedade os germes da esperança e anunciar ao mundo a luz da Páscoa, que ilumina com uma nova luz todas as realidades humanas.

Cirilo e Metódio, os dois irmãos de Salónica, receberam o mandamento do Ressuscitado: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura" (Mc 16, 15). Tendo partido ao encontro dos povos eslavos, souberam anunciar-lhes o Evangelho na sua própria língua. Eles não só "desempenharam a sua missão com todo o respeito pela cultura que já existia entre os povos eslavos, mas promoveram-na e incrementaram-na de modo iminente e incessante ao cultivarem a religião" (Slavorum apostoli, 26). Oxalá o seu exemplo e a sua oração nos ajudem a responder sempre melhor à exigência da inculturação e faça com que rejubilemos com a beleza deste aspecto multiforme da Igreja de Cristo!

5. Na sua experiência pessoal de crente e no seu ministério de apóstolo, Paulo compreendeu que Cristo era o único caminho de salvação, Ele que, mediante a graça, reconcilia os homens consigo e com Deus. "Ele é a nossa paz, Ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava" (Ef 2, 14).

Dali em diante o Apóstolo tornou-se defensor da unidade, no meio das comunidades e entre elas, porque nele ardia a "solicitude por todas as Igrejas" (cf 2 Cor 11, 28)!

A paixão da unidade da Igreja deve ser a de todos os discípulos de Cristo. "Infelizmente, os tristes legados do passado vão acompanhar-nos ainda para além do limiar do novo milénio... há ainda tanto caminho a percorrer" (Novo millennio ineunte, 48). Mas não nos deixemos desencorajar; o nosso amor pelo Senhor impele-nos a empenhar-nos cada vez mais em favor da unidade. Para dar novos passos nesta direcção, é importante "partir de Cristo" (ibid., 29).

"É sobre a oração de Jesus, não sobre as nossas capacidades, que assenta a confiança de poder chegar, também na história, à comunhão plena e visível de todos os cristãos... A lembrança do tempo em que a Igreja respirava com os dois "pulmões", estimule os cristãos do Oriente e do Ocidente a caminharem juntos, na unidade da fé e no respeito das legítimas diferenças, aceitando-se e ajudando-se uns aos outros como membros do único Corpo de Cristo" (Ibid., 48)!

A Virgem Maria acompanhou com a sua oração e com a sua presença materna o caminho e a missão da primitiva comunidade cristã, à volta dos Apóstolos (cf. Act. 1, 14). Ela recebeu com eles o Espírito do Pentecostes! Que ela vigie sobre o caminho que nós agora devemos percorrer, a fim de nos encaminharmos rumo à plena unidade com os nossos irmãos do Oriente e de cumprirmos juntos, com disponibilidade e entusiasmo, a missão que Jesus Cristo confiou à sua Igreja. Que a Virgem Maria, tão venerada no vosso País e particularmente nos santuários das Ilhas, como Virgem da Anunciação na Ilha de Tinos, e sob o título de Nossa Senhora da Graça, em Faneromeni, na Ilha de Siros, nos guie sempre para o seu Filho Jesus (cf. Jo 2, 5). É Ele é o Cristo, o Filho de Deus, "a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina" (Jo 1, 9)!

Fortalecidos pela esperança que nos é dada por Cristo e sustentados pela oração fraterna de todos os que nos precederam na fé, prossigamos a nossa peregrinação terrena como verdadeiros mensageiros da Boa Nova, felizes pelo louvor pascal que habita os corações e desejosos de o partilhar com todos:

"Louvai ao Senhor, todos os povos.
Exaltai-O todas as nações!
Grande é o Seu amor para connosco,
e a Sua fidelidade permanece para sempre!
" (Sl 116).

Amen.

 


Saudação

Dou graças ao Senhor por poder realizar estas jornadas de Peregrinação nos passos do Apóstolo dos Gentios. Peço a São Paulo que vos acompanhe todos os dias. Assim como ele foi, sede também vós testemunhas de Cristo!

Agradeço em primeiro lugar ao Senhor Presidente da República o seu convite e a sua hospitalidade. Estou grato a Sua Beatitude Christódoulos e aos seus colaboradores pela solicitude que demonstraram por esta minha Peregrinação nos passos de São Paulo. Agradeço de igual modo a D. Fóscolos e a cada um dos Bispos católicos. Obrigado a todos vós aqui presentes. Cristo e a Igreja contam convosco. Abençoo-vos do íntimo do coração!

Saúdo cordialmente todas as pessoas que para aqui vieram da Polónia.

Estou feliz por participardes activamente na vida da Igreja católica que está na Grécia; foram os Bispos locais que me deram várias vezes estas informações. Viveis num País em que desde há séculos se misturam diversas culturas, religiões e tradições espirituais. É-me grato saber que conseguis beneficiar desta variedade e, ao mesmo tempo, conservais a vossa identidade. Agradeço aos Padres Jesuítas e a todos aqueles que estão comprometidos no vosso cuidado pastoral. Conservo no meu coração as vossas alegrias e preocupações, enquanto as confio à Providência divina. Por intercessão do Apóstolo São Paulo, cuja memória está particularmente viva em Atenas, peço ao bom Deus que vos cumule com as suas bênçãos.

A paz esteja convosco! Deus abençoe a Grécia!

 



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