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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II A TORONTO,
À CIDADE DA GUATEMALA E À CIDADE DO MÉXICO
(23 DE JULHO-2 AGOSTO DE 2002)

BEATIFICAÇÃO DE DOIS SERVOS DE DEUS
JOÃO BAPTISTA E JACINTO DOS ANJOS

HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II

Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, Cidade do México
Quinta-feira,1º de Agosto de 2002

 

Queridos Irmãos e Irmãs

1. "Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu" (Mt 5, 10). No Evangelho das Bem-Aventuranças, esta última convida a não desanimar perante as perseguições que a Igreja teve de enfrentar desde o princípio. No Sermão da Montanha, Jesus promete a felicidade autêntica àqueles que são pobres em espírito, que choram ou que são mansos; e também aos que procuram a justiça e a paz, que actuam com misericórdia ou que são puros de coração.

Diante do sofrimento humano que acompanha o caminho na fé, São Pedro exclama: "Alegrai-vos por participardes dos sofrimentos de Cristo, para que também vós vos alegreis e exulteis ao revelar-se a sua glória" (1 Pd 4, 13). Foi com esta convicção que João Baptista e Jacinto dos Anjos enfrentaram o martírio, permanecendo fiéis ao culto de Deus vivo e verdadeiro, e rejeitando os ídolos.

Enquanto padeciam os sofrimentos, foi-lhes proposto que renunciassem à fé católica e se salvassem, mas eles contestaram com coragem: "Dado que professámos o Baptismo, seguiremos sempre a religião verdadeira". Bonito exemplo do modo como nada se deve antepor, nem sequer a própria vida, ao compromisso baptismal, como fizeram os primeiros cristãos que, regenerados pelo próprio Baptismo, abandonaram todas as formas de idolatria (cf. Tertuliano, De baptismo, 12, 15).

2. Saúdo com afecto os Senhores Cardeais e Bispos congregados nesta Basílica. Em particular, o Arcebispo de Oaxaca, D. Héctor González Martínez, os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos, especialmente aqueles que vieram de Oaxaca, terra natal dos novos Beatos, onde a sua recordação ainda permanece muito viva.

A vossa terra é uma rica mistura de culturas. O Evangelho chegou aqui em 1529, com os Frades Dominicanos a usar as línguas nativas e os usos e costumes das comunidades locais. Entre os frutos desta sementeira cristã, realçam-se estes dois grandes mártires.

3. Na segunda leitura, São Pedro recordou-nos que, se alguém "sofre como cristão... glorifique a Deus por ter o nome de cristão" (1 Pd 4, 16). Derramando o seu sangue por Cristo, João Baptista e Jacinto dos Anjos são autênticos mártires da fé.

Como o Apóstolo Paulo, no seu interior, podiam interrogar-se: "Quem nos poderá separar do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada?" (Rm 8, 35).

Estes dois cristãos indígenas, irrepreensíveis na sua vida pessoal e familiar, padeceram o martírio em virtude da sua fidelidade à fé católica, felizes por serem baptizados. Eles constituem um exemplo para os fiéis leigos, chamados a santificar-se nas circunstâncias ordinárias da vida.

4. Com esta Beatificação, a Igreja põe em relevo a sua missão de anunciar o Evangelho a todos os povos. Os novos Beatos, fruto de santidade da primeira Evangelização entre os índios zapotecas, animam os indígenas de hoje a apreciar as suas culturas e línguas e, sobretudo, a sua dignidade de filhos de Deus que os outros devem respeitar no contexto da Nação mexicana, pluralista na origem das suas populações e disposta a construir uma família comum na solidariedade e na justiça.
Os dois Beatos são um paradigma do modo como, sem mistificar os seus costumes ancestrais, é possível alcançar Deus, sem renunciar à própria cultura, mas deixando-se iluminar pela luz de Cristo, que renova o espírito religioso das melhores tradições dos povos.

5. "Sim, o Senhor foi grande connosco, e por isso estamos alegres" (Sl 126 [125], 3). Com estas palavras do salmista, o nosso coração enche-se de júbilo, porque Deus abençoou a Igreja que está em Oaxaca e o seu povo mexicano com dois dos seus filhos, que no dia de hoje são elevados à glória dos altares. Com um exemplar cumprimento das suas funções públicas, eles são um modelo para as pessoas que, nas pequenas aldeias ou nas grandes estruturas sociais, têm o dever de favorecer o bem comum com esmero e abnegação pessoal.

João Baptista e Jacinto dos Anjos, esposos e pais de família de comportamento irrepreensível, como já nessa época foi reconhecido pelos seus compatriotas, recordam às famílias mexicanas de hoje a grandeza da sua vocação, o valor da fidelidade na caridade e o generoso acolhimento da vida.

Alegra-se, pois, a Igreja porque, através destes novos Beatos, recebeu demonstrações evidentes do amor de Deus para connosco (cf. Prefácio II dos Santos). Rejubila inclusivamente a comunidade cristã de Oaxaca e do México inteiro, porque o Todo-Poderoso fixou o seu olhar em dois dos seus filhos.

6. Perante o rosto meigo da Virgem de Guadalupe, que deu alento constante à fé dos seus filhos mexicanos, renovemos o compromisso evangelizador que distinguiu também João Baptista e Jacinto dos Anjos. Façamos participantes desta tarefa todas as comunidades cristãs, a fim de que proclamem com entusiasmo a sua fé e a transmitam na sua integridade às novas gerações. Anunciai o Evangelho, estreitando os vínculos de comunhão fraternal e dando testemunho da fé com uma vida exemplar no seio da família, do trabalho e dos relacionamentos sociais! Procurai o Reino de Deus e a sua justiça já aqui na terra, mediante uma solidariedade concreta e fraternal para com os mais desfavorecidos ou marginalizados (cf. Mt 25, 34-35)! Sede artífices de esperança para a sociedade inteira!

À nossa Mãe celestial, queremos manifestar a alegria que nos arrebata, ao vermos ser elevados à glória dos altares dois dos seus filhos e, ao mesmo tempo, pedimos-lhe que abençoe, console e ajude, como sempre fez deste Santuário de Tepeyac, o querido povo mexicano e toda a América!

No fim da homilia, o Papa quis proferir ainda estas expressões: 

Recordo-me de que, durante a minha primeira visita, em 1979, pude visitar Oaxaca. Alegro-me por hoje ter beatificado dois dos seus filhos. Graças a Deus!

Após a celebração, João Paulo II, ainda pronunciou estas palavras:

Senti aqui a vossa estima e voltar causou-me uma profunda alegria espiritual, de que dou graças a Deus e à sua Mãe Santíssima. Obrigado também a todos vós que preparastes a minha visita, atendendo a todos os pormenores. Obrigado aos que, com tanto carinho, me receberam nas ruas desta cidade, aos que vieram de longe, aos que escutaram e acolheram a mensagem que vos deixo, a vós que tanto rezais pelo meu ministério de Sucessor de São Pedro.

Ao preparar-me para deixar esta terra bendita, vem-me aos lábios a palavra da canção popular em língua espanhola:  "Me voy, pero non me voy. Me voy, pero non me ausento, pues, aunque me voy, de corazón me quedo!" (Vou embora, mas não me vou. Vou embora, mas não me ausento, pois, ainda que vá embora, aqui fico com o meu coração).

E depois, acrescentou:

México, México, lindo México, que Deus te abençoe!

 



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