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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

DISCURSO DO SANTO PADRE
DURANTE O ENCONTRO COM AS RELIGIOSAS
 MEXICANAS NO COLÉGIO "MIGUEL ÁNGEL"

Sábado, 27 de Janeiro de 1979

 

Queridas filhas religiosas do México

Este encontro do Papa com as religiosas mexicanas, que era para realizar-se na Basílica da nossa Mãe de Guadalupe, realiza-se aqui, tendo-A espiritualmente presente, a Ela, modelo perfeito de mulher, o melhor exemplo de vida inteira mente dedicada a seu Filho, o Salvador, numa constante atitude interna de fé, de esperança, de entrega amorosa a uma mis. são sobrenatural.

Neste lugar privilegiado e perante esta figura da Virgem, quer o Papa passai uns momentos convosco, numerosas religiosas aqui presentes, que representais, as mais de vinte mil distribuídas por todo o território mexicano e também fora da Pátria.

Sois uma força importantíssima dentre da Igreja e da própria sociedade, colocadas em inumeráveis sectores como o das escolas e colégios, das clínicas e hospitais, do campo caritativo e assistencial, das obras paroquiais, da catequese dos grupos de apostolado e tantos outros. Fazeis parte de diversas famílias religiosas mas com um mesmo ideal dentro de diferentes carismas: seguir a Cristo, ser testemunho vivo da perenidade da Sua mensagem.

A vossa vocação é uma vocação que merece a máxima estima por parte do Papa e da Igreja, ontem como hoje. Por isso, vos quero manifestar a minha alegre confiança em vós e animar-vos a não desfalecerdes no caminho empreendido, que vale a pena prosseguir com renovados espírito e entusiasmo. Sabei que o Papa vos acompanha com a sua oração e se compraz com a vossa fidelidade à própria vocação, a Cristo, à Igreja

Ao mesmo tempo, contudo, permitir-me-eis que acrescente algumas reflexões que proponho à vossa consideração e ao vosso exame.

É certo que em grande parte das religiosas prevalece um louvável espírito de fidelidade ao próprio compromisso eclesial, e que se advertem aspectos de grande vitalidade na vida religiosa, com o retorno a uma visão mais evangélica, crescente solidariedade entre as famílias religiosas, e maior aproximação dos pobres, que são objecto de justa atenção prioritária. São motivos, estes, de alegria e de optimismo.

Mas também não faltam exemplos de confusão acerca da própria essência da vida consagrada e do próprio carisma. Por vezes abandona-se a oração, substituindo-a com a acção; interpretam-se os votos segundo a mentalidade secularizante que esfuma as motivações religiosas do próprio estado; abandona-se com certa ligeireza a vida em comum; adoptam-se posições sócio-políticas como sendo o verdadeiro objectivo a alcançar, inclusivamente com bem definidas radicalizações ideológicas.

E quando acontece que se obscurecem as certezas da fé, alegam-se motivos de busca de novos horizontes e experiências, talvez com o pretexto de estar mais perto dos homens, quiçá de grupos bem concretos, escolhidos com critérios nem sempre evangélicos.

Queridas religiosas: não esqueçais nunca que para manter um conceito claro do valor da vossa vida consagrada ser-vos-á necessária uma profunda visão de fé, que se alimenta e mantém com a oração (Cfr. Perfectae caritatis. 6); a mesma fé que vos fará superar toda a incerteza acerca da vossa própria identidade, que vos fará permanecer fiéis a essa dimensão vertical que vos é essencial, para vos identificardes com Cristo desde as bem-aventuranças, e serdes testemunhas autênticas do Reino de Deus para os homens do mundo actual.

Só com esta solicitude pelos interesses de Cristo (Cfr. 1Cor. 7, 32), sereis capazes de conferir ao carisma do profetismo a sua conveniente dimensão ele testemunho do Senhor: renunciando a opções, pelos pobres e os necessitados, que não provenham de critérios do Evangelho, mas, pelo contrário, se inspirem em motivações sócio-políticas que — como disse recentemente aos Superiores-Gerais, em Roma — com o tempo se manifestam inoportunos e contraproducentes.

Escolhestes como método de vida seguir valores que não são os valores meramente humanos, embora também estes devais apreciar na sua justa medida. Optastes pelo serviço aos outros por amor de Deus. Não esqueçais nunca que o ser humano se não encontra confinado na dimensão terrestre. Vós, como profissionais da fé e especialistas no sublime conhecimento de Cristo (Cfr. Flp. 3, 8), abri-o para o chamamento e para a dimensão de eternidade em que vós mesmas deveis viver.

Teria ainda muitas outras coisas a dizer-vos. Tomai como se tivesse sido dito a vós, quanto indiquei às Superioras-Gerais Religiosas no meu discurso de 16 de Novembro último. Quanto podeis fazer hoje, pela Igreja e pela humanidade! Elas esperam a vossa generosa entrega, a dedicação do vosso coração livre, que dilate incalculavelmente as suas potencialidades de amor num mundo que está a perder a capacidade de altruísmo, de amor sacrificado e desinteressado. Recordai-vos, com efeito, que sois místicas esposas de Cristo e de Cristo crucificado (C£r. 2Cor. 4, 3).

A Igreja reafirma-vos hoje a sua confiança: sede testemunhas vivas daquela nova civilização do amor que, tão acertadamente, o meu predecessor Paulo VI proclamou.

A fim de que, nesta empresa magnífica e geradora de esperança, vos corrobore a força vinda do alto, a qual vos manterá numa renovada juventude espiritual, fiéis a estes propósitos, acompanho-vos com uma Bênção particular, que faço extensiva a todas as religiosas do México.

 

 



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