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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II
À REPÚBLICA DOMINICANA, MÉXICO E BAHAMAS
[25 DE JANEIRO - 1º DE FEVEREIRO DE 1979]

DISCURSO DO SANTO PADRE
AOS OPERÁRIOS E RESPECTIVAS FAMÍLIAS
NO ESTÁDIO DE JALISCO

Terça-feira, 30 de Janeiro de 1979

 

Queridos irmãos e irmãs
Queridos trabalhadores e trabalhadoras

Eis-me aqui, neste quadro maravilhoso de Guadalajara, onde nos encontramos no nome d'Aquele que quis ser conhecido como o Filho do operário.

Venho até vós trazendo nos meus olhos e na minha alma a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, vossa Padroeira, para com a qual professais um amor filial que pude observar não só no seu santuário mas inclusivamente passando pelas ruas e cidades do México. Onde quer que esteja um mexicano, está também a Mãe de Guadalupe. Dizia-me um senhor que 96 por cento dos mexicanos são católicos, mas cem por cento são "guadalupanos".

Quis vir visitar-vos, famílias operárias de Guadalajara e de outras localidades desta Arquidiocese que se distingue pela sua adesão à fé, pela sua unidade familiar e pelos seus esforços para responder às grandes exigências humanas e cristãs da justiça, da paz e do progresso, segundo Deus.

Apresento-me diante de vós como um irmão com alegria e com amor, depois de ter tido a oportunidade de percorrer os caminhos do México e de ser testemunha do amor que aqui se professa a Cristo, à Virgem Santíssima e ao Papa, peregrino e mensageiro da fé, da esperança e da união entre os homens.

Desejo manifestar-vos desde o primeiro momento quanto é grato ao Papa que este encontro seja com trabalhadores, com famílias operárias, com famílias cristãs que a começar dos seus lugares de trabalho sabem ser agentes de bem social, de respeito, de amor a Deus na oficina, na fábrica, em qualquer casa ou lugar.

Penso em vós, meninos e meninas, jovens de famílias operárias; vem-me ao pensamento a figura d'Aquele que nasceu no seio de uma família de operários, que cresceu em idade, sabedoria e graça, que de Sua Mãe aprendeu os caminhos humanos, e naquele varão justo que Deus lhe deu coma pai teve o mestre na vida e no trabalho quotidiano. A Igreja venera esta Mãe e esse Homem, esse santo operário, modelo de homem e modelo de operário.

Nosso Senhor Jesus Cristo recebeu as carícias dás suas ásperas mãos de operário, mãos endurecidas pelo trabalho, mãos abertas para a bondade e para o irmão necessitado. Permiti-me entrar nas vossas casas, se quereis ter o Papa como hóspede e vosso amigo, e dai-lhe o conforto de ver nos vossos lares a união, o amor familiar que descansa após o dia de fadiga neste mútuo e afectuoso intercâmbio que reinava na Sagrada Família. Mostrai-me, queridos meninos e jovens, que vos estais preparando de maneira séria para o amanhã; repito-vo-lo, sois a esperança do Papa.

Não me negueis o prazer de vos ver empreender caminhos que vos levem a ser autênticos seguidores do bem e amigos de Cristo. Não me negueis a alegria de ver o vosso sentido de responsabilidade nos estudos, nas actividades, nos divertimentos. Sois chamados a ser portadores de generosidade e de honestidade, a ser lutadores contra a imoralidade, a preparar esse México mais justo e são, mais feliz, para os filhos de Deus e filhos de Maria nossa Mãe.

Vós sabeis muito bem que o trabalho dos vossos pais está presente no esforço comum de crescimento nesta Nação e em tudo o que contribua para que os benefícios da civilização contemporânea cheguem a todos os mexicanos. Sede orgulhosos dos vossos pais e colaborai com eles na vossa formação de jovens honestos e cristãos; acompanham-vos o meu afecto e o meu alento.

O afecto do Papa vai também para as trabalhadoras mães e esposas presentes e para todas aquelas que escutam a minha palavra através dos meios de comunicação social. Recordai aquela Virgem Mãe que soube ser causa de alegria para o esposo e guia solícita para o filho nos momentos de dificuldade e de prova. Quando tiverdes preocupações e (imitações, recordai que Deus escolheu uma Mãe pobre e que Ela soube permanecer firme no bem, mesmo nas horas mais duras.

Muitas de vós trabalhais também nalgumas das múltiplas actividades que hoje se abrem à capacidade feminina; muitas de vós sois também sustento para não poucos lares e ajuda contínua para que a vida familiar seja cada vez mais digna. Estai presentes com a vossa criatividade na transformação desta sociedade, a maneira de vida contemporânea oferece oportunidades e empregos cada vez mais importantes para a mulher, levai o vosso contributo iluminado pelo vosso sentido religioso, a todos os vossos e até às mais altas magistraturas.

Amigos, irmãos trabalhadores, existe um conceito cristão do trabalho, da vida familiar e social que encerra grandes valores e que reclama critérios e normas morais que orientem quem crê em Deus e em Jesus Cristo, para que o trabalho se realize como uma verdadeira vocação de transformação do mundo, num espírito de serviço e de amor aos irmãos, para que a pessoa humana se realize aqui mesmo e contribua para a humanização crescente do mundo e das suas estruturas.

O trabalho não é uma maldição, é uma bênção de Deus que chama o homem a dominar a terra e a transformá-la, a fim de que, com a inteligência e o esforço humano, continue a obra criadora e divina. Quero dizer-vos com toda a minha alma e as minhas forças, que as insuficiências de trabalho, as ideologias de ódio e de violência, que não são evangélicas e tantas feridas causam na humanidade contemporânea, são para mim motivos de sofrimento.

Para o cristão não basta a denúncia das injustiças, pede-se-lhe que seja testemunha e agente de justiça; quem trabalha possui direitos que devem ser defendidos legalmente, mas tem também deveres que há-de cumprir generosamente. Como cristãos sois chamados a ser artífices de justiça e de verdadeira liberdade ao mesmo tempo que edificadores de caridade social. A técnica contemporânea cria toda uma problemática nova e às vezes é causa de desemprego, mas também abre grandes possibilidades que requerem no trabalhador uma preparação cada vez maior e um contributo cia sua capacidade humana e imaginação criadora. Por isso o trabalho não deve constituir mera necessidade, deve ser visto como uma verdadeira vocação, um chamamento de Deus para construir um mundo novo em que habitem a justiça e a fraternidade, antecipação do Reino de Deus, onde já não haverá neto faltas, nem limitações.

O trabalho deve ser o meio para que toda a criação esteja submetida à dignidade do ser humano e filho de Deus.

Esse trabalho oferece a oportunidade do comprometer-se com toda a comunidade, sem ressentimentos, sem amarguras, sem ódios, mas com o amor universal de Cristo que a ninguém exclui e que a todos abraça.

Cristo anunciou-nos o Evangelho, e, por ele sabemos que Deus é amor. que é Pai de todos e que nós somos irmãos.

O mistério central da nossa vida cristã que ë o mistério da Páscoa, faz-nos olhar para o céu e para a terra nova. No trabalho deve existir essa mística pascal, com a qual os sacrifícios e as fadigas se aceitam com impulso cristão a fim de fazer com que resplandeça mais claramente a nova ordem querida pelo Senhor e para fazer um mundo que corresponda à bondade de Deus na harmonia, no amor e na paz.

Amadíssimos filhos e filhas, peço ao Senhor por todos vós e pelas vossas famílias, peço ao Senhor pela unidade e estabilidade dos casais e por que a vida do lar seja sempre plena e feliz. A fé cristã deve ser mais forte perante todos os factores de crise contemporânea. A Igreja, como o Concílio nos ensinou carinhosamente, deve ser a grande família em que se vive a dinâmica de unidade, de vida, de felicidade e de amor, que é a Santíssima Trindade.

O próprio Concílio chamou à família "pequena Igreja"; na família cristã, tem o seu princípio a acção evangelizadora da Igreja. As famílias são as primeiras escolas da educação na fé; só conservando essa unidade cristã será possível à Igreja cumprir a sua grande missão na sociedade e na mesma Igreja.

Amigos e irmãos, obrigado por me terdes oferecido a possibilidade de participar neste grande encontro com o mundo operário, com o qual me sinto sempre tão à vontade. Sois para o Papa amigos e companheiros. Obrigado.

Esta cidade de Guadalajara distinguiu-se em todo o México pelo impulso dado às actividades desportivas que proporcionam à família o crescimento físico e espiritual e a alegria de um espírito são num corpo são.

O grupo de futebolistas que nos acompanha dá uma nova cor à nossa grande reunião. O Papa abençoa a todos e a cada um de vós. Que a sua bênção vos sirva de alento no vosso compromisso apostólico com generosa entrega fraterna e com a certeza de que Deus trabalha convosco a fim de construirdes um mundo mais belo, mais afável, mais justo, mais humano e mais cristão.

Assim seja.

 



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