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VISITA PASTORAL À REGIÃO DA LOMBARDIA
 20-22 DE MAIO DE 1983

ENCONTRO DO PAPA JOÃO PAULO II
COM OS JOVENS EM MONZA

Autódromo de Monza
Sábado, 21 de Maio de 1983

 

Caríssimos jovens!

1. Este nosso encontro, caracterizado por recíproca alegria, realiza-se no contexto do XX Congresso Eucarístico Nacional. Eu e vós queremos hoje, com Milão e com toda a Itália, proclamar solene e publicamente a nossa fé em Cristo, presente no sacramento da Eucaristia, fonte, centro e vértice de toda a vida da Igreja!

Estou no meio de vós para vos falar de Cristo, para pôr as vossas inteligências, a vossa vontade e os vossos ideais em confronto com a sua pessoa, a sua mensagem e as suas exigências; para vos encorajar a viver com entusiasmo e empenho os anos da vossa juventude, aderindo a Ele, projectados na realidade do futuro, que será como vós já estais a plasmá-lo e a construí-lo, dia a dia, desde agora.

Os homens ao longo dos séculos, encontrando-se com Cristo dirigiram-Lhe — e continuam hoje a dirigir-Lhe — a pergunta fundamental: "Quem és? De onde vens?" (cf. Jo. 19, 9). A resposta a tal pergunta depende sobretudo da atitude interior de disponibilidade e de abertura daquele que a faz. Também vós, nesta vossa idade linda e dramática, em que floresce e amadurece toda a vossa realidade pessoal — corporeidade, sensibilidade, vontade, inteligência — estais a fazer esta contínua busca, que é também uma descoberta sempre renovada, e compreendeis como a vossa resposta envolve, no afirmativo e no negativo, toda a vossa existência.

2. Não tenhais medo de Cristo! Repito-o hoje a vós e a todos os jovens! Ele não provoca a alienação da vossa identidade; não avilta, não degrada nem mortifica a vossa razão; não oprime a vossa liberdade! Ele é o Filho de Deus, encarnado, morto e ressuscitado por nós e para a nossa salvação, isto é, para a nossa libertação autêntica e total! Ele, Deus, quis tornar-se realmente um de nós, nosso Salvador, nosso Redentor, nosso Amigo, nosso Irmão; inseriu-se nos nossos problemas e nos nossos dramas quotidianos; sentiu a nossa fraqueza, a nossa fragilidade, a nossa precariedade, até à experiência angustiante da traição dos Seus e ao sofrimento da morte. Encarnação da infinita misericórdia de Deus, Cristo dirigiu à humanidade a sua mensagem de verdade e de esperança, realizou prodígios, prometeu o perdão dos pecados, mas sobretudo ofereceu-se ao Pai num gesto de imenso amor, vítima de expiação pelos nossos pecados!

Diante de Cristo, caríssimos jovens, não se pode ficar indiferente! Não nos encontramos apenas diante de um Mestre, embora ilustre, de ideologias de fundo ético; ou diante de um homem com particular experiência religiosa; ou de um grande profeta; ou de um homem privilegiado, no qual haja uma especial presença moral de Deus. Personalidades deste género podem interessar-nos durante algum tempo nos nossos estudos históricos, literários, filosóficos ou religiosos. Cristo, pela sua singular realidade humana e divina, pela missão única recebida do Pai, envolve e compreende toda a nossa vicissitude humana, porque é o Centro da História, o Redentor do homem!

Por isto vos digo hoje: procurai com objectividade, com honestidade e coragem, Cristo! Esforçai-vos por O conhecer a fundo; estudai-O continuamente. Este vosso constante empenho de aprofundamento pessoal e comunitário do Acontecimento -Cristo com a graça divina culminou ou culminará na fé, dom de Deus e resposta pessoal do homem. Tal atitude de fé em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, não é uma diminuição das vossas exigências culturais, mas um verdadeiro, enriquecimento e uma exaltação da vossa sede de conhecimento e da vossa razão, disponível à irrupção da Revelação divina.

3. Com as expressões do apóstolo João dirijo-me hoje a vós "jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o maligno" (cf. 1 Jo. 2, 14). Manifestai a força incoercível da vossa juventude na alegria e na coragem da fé cristã, aquela fé que produz a vitória sobre as forças do mal!

Crede em Cristo! Confiai em Cristo! Amai Cristo! Ele encarnou para iluminar a vossa inteligência com a verdade que é Ele mesmo! Para dar à vossa vontade a força de realizar o bem e de quebrar as correntes da escravidão do pecado! Para vos dar a capacidade exaltante de Vos dirigirdes ao Absoluto, ao Infinito, para Lhe chamar com desarmante simplicidade: Abba, Pai!

Esta fé em Cristo deve operar uma radical transformação interior, deve tornar-se uma nova vida: "Viver em Cristo!". Esta vida em Cristo, animada e fecundada pelos Sacramentos, em particular pelos Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia, é como um caminho em novidade de vida (cf. Rom. 6, 4).

Esta vossa união com Cristo, esta comunhão com Ele deve resolver-se e concretizar-se também numa comunhão com os outros. A vossa fé deve tornar-se uma presença e um testemunho no mundo; isto é, deve exprimir-se nos vários níveis da vossa vida quotidiana: deveis viver como cristãos todas as dimensões: as familiares, as culturais, as artísticas, as sócio-políticas, numa palavra, todas as dimensões humanas!

4. Vós, jovens de 1983, sois a nova geração, que superou e pôs de parte a desorientação de há anos. A época da contestação foi superada: pertence ao passado. Vós — como todos os jovens — quereis trazer alguma coisa de novo, de insólito, de original, de juvenil á sociedade; quereis transformá-la, não superficialmente, mas a partir dos fundamentos. É esta a "grande esperança", em que vós jovens crentes em Cristo deveis empenharmos, dando generosamente o vosso contributo de ideias, de iniciativas, de propostas, de tempo e de sacrifícios!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual a vida do homem seja respeitada, salvaguardada, protegida desde a sua concepção e em todas as suas etapas seguintes! Seja escutado o gemido de tantos inocentes, precocemente eliminados!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual as crianças e os pobres não morram literalmente de fome, enquanto as nações opulentas deitam escandalosamente fora as sobras dos seus lautos banquetes!

Ajudai a construir uma nova sociedade, na qual o dinheiro público não seja destinado para a corrida aos armamentos, mas para o progresso social dos cidadãos, para o seu bem-estar económico, para a sua saúde e para a sua instrução! Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual o pluralismo das ideias e das concepções seja realmente admitido e respeitado, a fim de não acontecer que aquele que detém a força se julgue no direito de fazer desaparecer ou eliminar ocultamente aqueles que não seguem a ideologia do poder!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual a sua contínua e ordenada transformação não seja entregue à utopia do terrorismo e da revolução violenta; a violência — psicológica ou física — só provoca lacerações, mortes, lutos e lágrimas!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual os jovens da vossa idade não sejam obrigados a procurar na droga a ilusão da felicidade; a droga mata a juventude e os seus ideais!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual também aqueles que já não podem produzir ou gastar segundo as leis inexoráveis da actual economia consumista, sejam respeitados, protegidos por leis adequadas à dignidade da pessoa humana!

Ajudai a construir uma sociedade nova, na qual resplandeça e se realize, a justiça, a verdade, o amor, a solidariedade e o serviço!

Num mundo que parece sucumbir lentamente à tentação do indiferentismo, do niquilismo, do materialismo teórico e prático, do desespero, vós, jovens, devereis ser os anunciadores, os realizadores e as testemunhas da esperança cristã, sem temores, sem perturbações, adorando o Senhor, Cristo, nos vossos corações — como recomenda São Pedro — prontos sempre a responder a quem quer que vos peça explicação da esperança que está em vós (cf. 1 Ped. 3, 14 s.). Deste modo a vossa vida será verdadeiramente comunhão com Cristo e comunhão com os irmãos!

Caríssimos!

Uma das primeira palavras, que eu disse no dia do início solene do meu Pontificado, foi uma palavra de especial confiança nos jovens! Também hoje, a vós jovens de Monza, de Milão, da Lombardia, da Itália inteira, digo: Vós sois a minha esperança, a esperança da Igreja, a esperança da Sociedade. Na força da vossa fé juvenil alimentais a esperança de um mundo renovado em Cristo!

Estou certo que o futuro próximo demonstrará que não desiludistes as expectativas que hoje se depõem em vós!

Coragem! O Papa está convosco! A Igreja está convosco! Cristo está convosco!

 


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