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 MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
 AO III ENCONTRO INTERNACIONAL DE SACERDOTES
A REALIZAR-SE NO MÉXICO (7-12 DE JULHO)

 

 

 

Queridos Irmãos no Sacerdócio!

1. É-me grato enviar-vos uma cordial saudação, quando participais no III Encontro Internacional de Sacerdotes, que tem lugar aos pés da Virgem de Guadalupe, na sua Basílica de Tepeyac (México), como numa terceira etapa de peregrinação espiritual rumo à Porta Santa do Grande Jubileu do Ano 2000, depois das precedentes que se realizaram nos Santuários marianos de Fátima (Portugal) e Yamoussoukro (Costa do Marfim).

No coração do Sucessor de Pedro tendes um lugar muito especial. Ao pensar em vós, vêm à minha mente as igrejas e capelas onde celebrais, as habitações onde residis, os lugares que percorreis, as acções com que plasmais o vosso ministério entre as crianças, os jovens, os adultos, as famílias e demais grupos para lhes dispensar os tesouros de Deus. Nesta ocasião quero renovar o meu afecto e a minha estima a cada um de vós que, desde os lugares habituais onde exerceis o ministério sacerdotal, empreendestes essa peregrinação para renovar os vínculos de comunhão de vida, a dimensão missionária da vossa actividade, a catolicidade dos próprios horizontes e, ao mesmo tempo, animar-vos mutuamente para uma nova evangelização cada vez mais incisiva e unitária, expressando assim, também dum modo muito eloquente, a nova fraternidade que entre vós nasce, graças ao Sacramento da Ordem. A respeito disso, alegra-me saber que, graças a um fundo de solidariedade constituído entre vós mesmos, se facilitou a presença de sacerdotes provenientes de Países com dificuldades económicas.

Estou agradecido à Congregação para o Clero, ao seu Prefeito, o Senhor Cardeal Dario Castrillón Hoyos, ao Secretário D. Csaba Ternyák, e aos organizadores dos trabalhos levados a cabo para assegurar o bom êxito deste Encontro. De igual modo, agradeço a presença dos Senhores Cardeais e Bispos que, com a sua participação, deram uma clara demonstração de estima e amor para com os sacerdotes.

2. Vós, queridos Irmãos, que fostes marcados por um carácter indelével que confere ao vosso ser uma identidade sacerdotal específica e vos configura de maneira particular com Cristo Cabeça, estais chamados a apresentar-vos diante dos homens e mulheres do nosso tempo como imagens vivas do Senhor e supremo Pastor de todos os fiéis. Assim vos hão-de ver aqueles com quem vos encontrardes no caminho ao longo da vida sacerdotal, como magnificamente se lê no texto guadalupense do Nican Nopoua, quando refere o que a Santíssima Virgem disse a Juan Diego: «Escuta, meu filho, Juanito, para onde te diriges? », e ele respondeu-lhe: «Minha Senhora, Rainha, minha Jovenzinha, ali chegarei, à tua pequenina casa de México Tlatilolco, para seguir as coisas de Deus que nos são dadas e ensinadas por aqueles que são as imagens de Nosso Senhor: os nossos Sacerdotes » (22 e 23).

Sabemos bem que todos os baptizados participam no sacerdócio de Cristo, mas o sacerdócio comum e o ministerial, ainda que estejam ordenados um ao outro, diferem essencialmente e não só em grau (cf. Lumen gentium, 10). O mesmo Senhor, para que todos os fiéis formem um só corpo, no qual cada um dos membros desenvolve tarefas ordenadamente diversas e complementares, constituiu alguns como ministros, dotando-lhes do poder sagrado que deriva da Ordenação (cf. Presbyterorum ordinis, 2).

Em virtude do selo de Cristo que trazeis impresso, convertestes-vos em propriedade de Deus com um título exclusivo para, de corpo e alma, vos ocupardes de prolongar a missão de anunciar a presença do Reino de Deus entre os homens. Esta é uma realidade que deveis ter sempre presente, recordando que Cristo chamou os primeiros Apóstolos «para andarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 13). Envia-os no Seu nome, com o poder da Palavra salvadora e a força do Espírito, e por isso pode dizerlhes claramente: «Quem vos recebe, a Mim recebe» (Mt 10, 40).

3. O carácter sacramental capacita-vos para prosseguir a missão de Cristo, anunciando a Boa Nova. Por meio de vós, Ele continua a guiar e a conservar o próprio rebanho e, com as acções sagradas que realizais, oferece o Seu sacrifício redentor, perdoa os pecados e distribui a Sua graça. Vós actualizais a missão do divino Mestre e fostes escolhidos, desde a eternidade, para ser constituídos em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, como prolongação viva do ministério de Cristo (cf. Hb 5, 1). São João Crisóstomo, ao referir-se ao sacerdote, escreve: «Se Deus não agisse por meio dele, tu não terias sido baptizado, não participarias nos mistérios, não terias sido abençoado; isto é, não serias cristão» (Hom. in 2 Tm, 2, 2.4).

Tendes consciência d'Aquele que vos enviou e conserva a missão que recebestes. Ressoam em vós as palavras de Jesus: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20, 21). Sois, portanto, os responsáveis da nova evangelização desde os postos de vanguarda e para isto fostes dotados do poder, da autoridade e da dignidade que vos permitem continuar a obra de Jesus Cristo.

Diante das dificuldades que tendes de enfrentar, jamais duvideis que o Espírito, o Paráclito, será o vosso defensor e advogado e vos dará forças para superar todos os obstáculos. Por isso, prossegui confiantes com segurança no Seu poder e experimentai o alívio e o descanso na oração frequente e prolongada. A oração unifica a vida do sacerdote, tantas vezes em perigo de dispersão pela multiplicidade de tarefas a serem realizadas, e confere autenticidade ao que fazeis, pois faz brotar do Coração de Cristo os sentimentos que animam o vosso trabalho. Não tenhais medo de lhe dedicar tempo e energias, mas antes procurai ser homens de oração assídua, saboreando o silêncio contemplativo e a celebração devota e diária da Eucaristia e da Liturgia das Horas, que a Igreja vos confiou para o bem de todo o Corpo de Cristo. A oração do sacerdote é também uma exigência do seu ministério pastoral, pois as comunidades cristãs se enriquecem com o testemunho do sacerdote orante que, com a sua palavra e a sua vida, anuncia o mistério de Deus.

4. A vossa missão, queridos Irmãos, está revestida de grande dignidade, e isto há-de impelir-vos a entregar-vos ao cuidado dos fiéis com solicitude e generosidade, a exemplo do Bom Pastor. É confortador o número de sacerdotes que, com abnegação, dedicam a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos. O povo santo de Deus ama-vos, valoriza os vossos sacrifícios, agradece a vossa dedicação e serviço pastoral. Que as incompreensões ou receios, e às vezes até perseguições de diversos tipos que marcam a vida de alguns, não diminuam o ardor da vossa abnegação e o zelo que prodigalizais no vosso santo ministério (cf. Rm 8, 37). Não tenhais medo, pois estais no lugar de Jesus, vencedor do mundo e das insídias do mal. Conservai o ardor dos primeiros anos do sacerd ócio, sem cair no desânimo, sustentando-vos mutuamente, fortes na fraternidade sacerdotal que brota do mesmo Sacramento.

5. Três são os lemas que vão presidir os trabalhos deste Encontro: «Converter-se para converter», «Em comunhão para promover a comunhão», «Com a Virgem Maria para a missão». Mediante a reflexão e o estudo orientado nessa direcção poderse-ão alcançar bons resultados e, de modo especial, intensificar a preparação para a entrada, já próxima, na Porta Santa do Grande Jubileu que «celebrará a Encarnação e a vinda do Filho de Deus ao mundo, mistério de salvação para todo o género humano» (Tertio millennio adveniente, 44), plenitude dos tempos (cf. Gl 4, 4).

Desejo ardentemente que, ao concluirdes este Encontro, regresseis aos vossos lugares de missão enriquecidos com uma magnífica experiência de fraternidade sacerdotal e desejosos de transmitir, nos vossos presbitérios diocesanos e nas comunidades que servis, um renovado dinamismo apostólico que favoreça a evangelização, tendo como ponto de referência três pilares que caracterizam a vida religiosa das terras latino-americanas, que vos acolheram nestes dias: a Eucaristia, «fonte e ápice de toda a evangeliza ção» (Presbyterorum ordinis, 5); a comunhão eclesial, fruto da presença de Jesus Cristo (cf. Lumen gentium, 4); e a Santíssima Virgem, Mãe da Igreja.

A Ela, que da sua imagem gravada no manto de Juan Diego é venerada pelos povos nesse Continente com o título de Guadalupe e «é a primeira evangelizadora da América» (Carta Os caminhos do Evangelho, n. 34), confio os trabalhos do Encontro e, enquanto Lhe peço que continue a guiar os vossos passos e a fecundar as vossas tarefas evangelizadoras, concedo-vos de coração uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 29 de Junho de 1998, Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo

 

 

 

 



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