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DISCURSO DO DO PAPA JOÃO PAULO II 
AO NOVO EMBAIXADOR DA AUSTRÁLIA 
POR OCASIÃO DA APRESENTAÇÃO 
DAS CARTAS CREDENCIAIS*

15 de Maio de 2003

 

Excelência

É com prazer que, hoje, lhe dou as boas-vindas e aceito as Cartas Credenciais mediante as quais Vossa Excelência é designado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Austrália junto da Santa Sé. Embora já tenham passado vários anos, as minhas visitas pastorais ao seu país permanecem claramente gravadas na minha mente. Recordo de maneira especial a beatificação de Maria MacKillop, aquela filha leal da Igreja que, de forma particular para os australianos, se tornou um modelo de discipulado cristão. Excelência, estou-lhe grato pelas saudações que me transmitiu da parte do governo e do povo da Austrália. Peço-lhe a amabilidade de lhes comunicar os meus melhores votos e de lhes assegurar as minhas preces pela paz e o bem-estar da nação.

Os ideais e os valores humanos de todos, com os quais tanto a Santa Sé como a Austrália procuram resolver os problemas que se apresentam à humanidade contemporânea devem continuar a encontrar a justa ressonância, mesmo nas sociedades caracterizadas por um profundo individualismo e pelo aumento do secularismo. A este respeito, a missão diplomática da Santa Sé procura apresentar uma visão de esperança a um mundo cada vez mais dividido. O compromisso da Igreja com vista a esta finalidade, considerando a sua defesa da dignidade da vida humana e da promoção dos direitos do homem, da justiça social e da solidariedade, deriva do reconhecimento da origem comum de todas as pessoas e visa o destino comum das mesmas. Nesta perspectiva, a dimensão transcendente da vida actua em ordem a opor as tendências à fragmentação e ao isolamento sociais, tão tristemente marcantes em muitas sociedades contemporâneas.

A solidariedade para com as nações em vias de desenvolvimento constitui uma característica bastante conhecida e elogiável do seu povo. O compromisso dos australianos nas missões de manutenção da paz, a sua assistência generosa aos programas de ajuda e, mais recentemente, o seu apoio a Timor Leste, uma Nação que acaba de conquistar a sua independência, tudo isto põe em justa evidência o desejo que eles têm de contribuir para a segurança internacional e a estabilidade necessária para o autêntico progresso social e económico. Fundamentando-se na força dos numerosos anos de sólida diplomacia da Austrália, o seu papel emergente como líder na região da Ásia e do Pacífico oferece à sua Nação a oportunidade de se tornar um promotor de paz cada vez mais importante para aqueles países que procuram alcançar a devida maturidade no campo da solidariedade internacional. Isto pôde ser particularmente observado quando foi perpetrada toda uma série de atentados terroristas que, tragicamente, abalaram as esperanças de paz no mundo.

Os actos de solidariedade são mais do que simples acções humanitárias unilaterais de boa vontade. O verdadeiro humanitarismo reconhece e expressa o plano universal de Deus para toda a humanidade. É somente em conformidade com esta visão de solidariedade mundial que os complexos desafios da justiça e da liberdade dos povos e da paz da humanidade poderão ser eficazmente enfrentados (cf. Familiaris consortio, 48). No centro desta perspectiva está a convicção de que todos os homens e todas as mulheres recebem de Deus tanto a sua dignidade essencial e comum, como a capacidade de transcender toda a ordem social, com vista à verdade e à generosidade (cf. Centesimus annus, 38). É nesta óptica que os diálogos e os acordos da Austrália com aqueles países que se encontram ao norte do seu continente, e que não compartilham a herança cristã, encontrarão o seu fundamento apropriado e estável. Do mesmo modo, é somente nesta perspectiva de unidade essencial da humanidade que as grandes dificuldades associadas à recepção dos refugiados e à antiga questão dos direitos às terras por parte dos Aborígenes, encontrarão soluções justas e verdadeiramente humanitárias.

Como Vossa Excelência observou, a tolerância é uma nova característica do povo da Austrália. Efectivamente, esta característica atraiu muitas pessoas para essa terra e reflecte-se na integração das comunidades multiétnicas que actualmente ali vivem. Contudo, o respeito devido a todas as pessoas não encontra a sua origem exclusivamente na existência das diferenças entre os povos. Da compreensão da verdadeira natureza da vida como dádiva deriva a exigência de que os homens e as mulheres devem respeitar a estrutura natural e moral que Deus lhes concedeu (cf. Centesimus annus, 38). Enquanto a importância política dada à subjectividade humana tem certamente realçado os direitos dos indivíduos, por vezes as tendências do que é "politicamente correcto" parecem esquecer que "os homens e as mulheres são chamados a orientar os seus passos para uma verdade que os transcende" (Fides et ratio, 5). Longe desta verdade, que constitui a única garantia de liberdade e de felicidade, os indivíduos encontram-se à mercê do capricho e do pluralismo indiferenciado e, pouco a pouco, perdem a capacidade de elevar o seu olhar para o ápice do significado da vida humana.

Na Austrália, assim como em numerosos outros países, o esforço em ordem a interpretar as opções de estilos de vida em relação ao plano de Deus para a humanidade manifesta-se nas pressões que se apresentam à vida matrimonial e familiar. A sacralidade do matrimónio deve ser promovida tanto pelos organismos religiosos como pelas entidades civis. Os desvios seculares e pragmáticos da realidade do matrimónio jamais podem obscurecer o esplendor de uma aliança permanente, que se fundamenta no amor abnegado, altruísta e incondicional. Esta maravilhosa visão do matrimónio e da vida familiar estáveis oferece à sociedade em geral um fundamento em que as aspirações da nação se podem apoiar.

Por sua vez, a Igreja católica que está na Austrália continuará a oferecer a sua assistência à vida familiar, através da qual passa o futuro da humanidade (cf. Familiaris consortio, 86). Ela já se encontra profundamente comprometida na formação espiritual e intelectual dos jovens, de forma especial através das suas escolas. Além disso, o seu apostolado social inclui aquelas pessoas que estão a enfrentar alguns dos sérios problemas da sociedade moderna comportamentos de dependência do álcool e das drogas e estou persuadido de que a Igreja há-de continuar a enfrentar com generosidade os novos desafios sociais que vierem a apresentar-se.

Excelência, estou certo de que a sua missão servirá para fortalecer ainda mais os vínculos de amizade que já existem entre a Austrália e a Santa Sé. No momento em que o Senhor Embaixador assume as suas novas responsabilidades, asseguro-lhe que os diversos departamentos da Cúria Romana estarão prontos para o assistir no cumprimento dos seus deveres. Sobre Vossa Excelência, a sua família e os seus concidadãos, invoco do íntimo do coração as abundantes bênçãos de Deus Todo-Poderoso.


*L'Osservatore Romano n. 21 pp. 2, 3.

 

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