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DISCURSO DO PAPA JOÃO PAULO II
AOS PEREGRINOS VINDOS DA SICÍLIA

12 de Dezembro de 1983

 

Senhor Cardeal,
Venerados Irmãos no Episcopado,
Caríssimos Sicilianos

1. A vossa presença faz-me logo recordar os magníficos e inesquecíveis dias 20 e 21 de Novembro do ano passado, durante os quais experimentei pessoalmente não só o vosso exultante afecto, mas, ainda mais, a ardente fé e a profunda adesão a Cristo e à Igreja, características constantes e exemplares dos habitantes da Ilha do sol!

Naqueles dois dias tive a alegria de me encontrar com o venerado Arcebispo de Palermo, o Cardeal Salvatore Pappalardo, a quem renovo nesta circunstância a minha estima pela sua incansável, intrépida e evangélica acção pastoral, com os vossos Pastores e com as várias componentes das santas Igrejas particulares da Sicília.

A minha peregrinação pastoral foi então ao coração mesmo da vossa Terra, tão cheia de antiquíssima história, rica de múltiplos valores humanos e cristãos, mas também marcada e mortificada por contradições de ordem enconómica e social.

A minha presença — em particular no Vale do Bélice — queria ser um apelo aos responsáveis e a todas as pessoas de boa vontade para que se esforçassem por apressar os tempos da recuperação; queria ser um convite a todos os Sicilianos para que se empenhassem pessoalmente e com responsabilidade na promoção do bem comum, no contínuo e efectivo respeito da pessoa humana, na vigilante e delicada atenção às necessidades dos mais pequeninos, dos marginalizados, dos "últimos"; mas queria também ser um testemunho de solidariedade e de encorajamento, na comum reflexão daquilo que a Sicília é em si mesma, daquilo que ela deu aos outros durante a sua longa e plurissecular vida histórica, daquilo que ela poderá ainda oferecer de bom, de belo, de santo na perspectiva do seu futuro. Ao estar no vosso meio recordei — e desejo recordá-lo hoje neste nosso encontro — o vosso profundo sentido religioso, que de modo especial orientou e inspirou durante séculos a vida familiar; a vossa inata capacidade de doação e de abertura para os outros, em particular para com os que sofrem e os necessitados; o exemplar respeito pela vida; o sentido do dever, da honra e da amizade. São valores humanos, que o Cristianismo — desde os primeiros tempos difundido na vossa Ilha — maturou, aprofundou, integrou e elevou.

Vós hoje quisestes retribuir aquela minha Visita, para me manifestar desse modo a vossa gratidão. Desejo expressar-vos a minha satisfação por este gesto tão delicado, mas, ainda mais, pelo facto que durante todo este ano, não só no Vale do Bélice e na Arquidiocese de Palermo, mas também nas várias Dioceses, as palavras, que pronunciei naquela Viagem aos diferentes grupos de fiéis, foram difundidas mediante os instrumentos da comunicação social, lidas, meditadas e estudadas, não só individualmente mas também por grupos de fiéis. Agradeço-vos a vossa adesão ao Magistério do Sucessor de Pedro.

2. Nesta peregrinação entendeis também exprimir ao Papa a vossa alegria pela recente elevação às honras dos altares de um filho da vossa nobre e generosa Terra: o novo Beato Giacomo Cusmano, um autêntico gigante da caridade cristã. Nascido em Palermo em 1834, laureou-se depois em medicina e, maturada a própria vocação ao sacerdócio, foi ordenado em 1860. Demonstrou-se deveras um sacerdote "para os pobres". Conhecida é a sua incansável dedicação na assistência aos enfermos, aos necessitados, aos doentes de cólera, aos moribundos; experiência que o levou a dar início à Associação da "Distribuição de alimento ao Pobre", da qual surgiram as Irmãs Servas dos Pobres e os Missionários Servos dos Pobres. "Pai dos Pobres", assim era chamado Cusmano pelos palermitanos; mas o Beato gostava de definir-se o "servo dos Pobres", nos quais, à luz da fé, entrevia a imagem sofredora de Cristo.

O Beato Cusmano, que morreu santamente em 1888, assume hoje de modo especial para a Sicília um papel e um significado proféticos. Ele ensina e proclama com toda a sua vida, consumida na dedicação aos outros e no total desinteresse de si, em que bases se pode construir o futuro da vossa Região. Diante das graves dificuldades, ligadas muitas vezes a um contexto social que se arrasta há séculos, cada um pode e deve empenhar-se "em manter uma consciência honesta, justa, delicada e responsável. Cada um no seu lugar se faça promotor de justiça, de fraternidade, de generoso altruísmo"; estas palavras — que em Palermo dirigi às Confrarias e aos Grupos Eclesiais — repito-as hoje a vós com o mesmo vigor e a mesma convicção. A vossa Sicília quer, e tem o direito de viver, uma vida concorde, serena e honesta! Certos factos de bárbara violência, que provocam dor, admiração e espanto, ofendem a dignidade humana. Contra eles é preciso que haja uma autêntica mobilização das consciências de todos. Como eu dizia no encontro com a multidão de jovens sicilianos, é necessário assumir "o amor perante o ódio e a violência"!

3. Mas existe sobretudo um outro motivo que vos trouxe em peregrinação a Roma: o Jubileu da Redenção.

Sem dúvida já obtivestes na vossas Dioceses a indulgência do Ano Santo Extraordinário; mas quisestes dar também um testemunho público e comunitário ao virdes "ad limina apostolorum", para venerar os túmulos dos Apóstolos e dos Mártires e para dar mais uma prova do vosso vínculo de amor e de fé, que vos une à Cabeça visível da Igreja, o Romano Pontífice.

Faço votos a todos vós aqui presentes, bem como a todos os Sicilianos residentes na Ilha ou espalhados pelo mundo, por que este Ano seja verdadeiramente Santo, isto é, um tempo privilegiado de graça e de salvação; um tempo em que cada um realize o renovamento em Cristo, a reconciliação com Deus e aquela mudança de espírito, de mente e de vida que na Bíblia é chamada "metanoia", conversão. Essa atitude — como afirmei na Bula de promulgação do Jubileu — "é suscitada e alimentada pela Palavra de Deus que é revelação da misericórdia do Senhor, torna-se operosa sobretudo por via sacramental e manifesta-se em múltiplas formas de caridade e de serviço aos irmãos" (Aperite portas Redemptori, 5).

Ao retornardes para a vossa Ilha, levai aos que vos são caros, às crianças, aos vossos amigos esta mensagem de fé e de esperança!

Confio-vos e a todos os Sicilianos à celeste protecção dos vossos Santos e das vossas Santas, em particular da Virgem Santíssima, a "Bela Mãe", por quem nutris de modo exemplar uma intensa e terna devoção. E concluo dirigindo-vos as mesmas palavras, com as quais me despedia, na Praça Politeama de Palermo, da imensa multidão de jovens, antes do meu retorno a Roma na noite de 21 de Novembro de 1982: "Coragem! Em vós abençoo o futuro da vossa vida e da vossa terra, a Sicília! Caríssimos, quero dizer-vos outras três palavras: obrigado; até logo; louvado seja Jesus Cristo!"

Com a minha Bênção Apostólica.

 



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