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MENSAGEM DO SANTO PADRE AO CONGRESSO DO
PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA
E NA CELEBRAÇÃO DOS 20 ANOS DA
 "FAMILIARIS CONSORTIO"

 

 

 


Ao Senhor Cardeal
ALFONSO LOPEZ TRUJILLO
Presidente do Pontifício Conselho para a Família

1. Saúdo cordialmente os participantes no Congresso sobre o tema "A familiarias consortio no seu vigésimo aniversário, sua dimensão antropológica e pastoral", promovido pelo mesmo Pontifício Conselho na ocasião do XX aniversário da publicação da Exortação Pós-sinodal Familiaris consortio.

Saúdo-o a Si, venerado Senhor Cardeal, que preside à actividade do Dicastério; saúdo o Secretário e Subsecretário e todos os colaboradores, assim como a quantos cuidaram da preparação deste encontro, que comemora um acontecimento de singular importância para a vida da Igreja e diz respeito a um dos temas que me está mais no coração:  a família. O panorama que ele pretende analisar é muito mais vasto e diz respeito à identidade e missão da família querida por Deus para "guardar, revelar e comunicar o amor" (FC, 17). Nos últimos vinte anos assistimos à formação de uma nova consciência e de uma nova sensibilidade a respeito da família. Vinte anos que assinalam também a existência do Pontifício Conselho para a Família, ao qual quis confiar o dever de aprofundar e valorizar todos os aspectos das riquezas contidas nas Proposições do Sínodo (cf. FC, 2). Dou graças a Deus pelo trabalho desenvolvido pelo vosso Dicastério na defesa e no serviço do Evangelho da Família.

2. Neste período, mesmo se não faltaram ataques à instituição familiar talvez entre os mais perigosos da história, foram-se consolidando algumas convicções comuns. Por exemplo, a causa integral da família e da vida é, hoje, redescoberta e promovida em tantos âmbitos como valor e direito pertencente ao património comum da humanidade. O Magistério da Igreja forneceu significativos elementos para esta renovação, com numerosas intervenções e ensinamentos. Já no tempo do Concílio Vaticano II, a família era considerada como um dos temas, a respeito do qual era necessário esclarecer a consciência dos cristãos e de toda a humanidade. Sobre esta esteira muitos passos foram realizados. O apelo:  "Família, torna-te aquilo que és", contido na citada Exortação Pós-sinodal (nº 17) teve muito eco na opinião pública.

"Família, torna-te aquilo que és", repito ainda hoje!

Como instituição natural, a comunidade familiar foi querida por Deus no "princípio", com a criação do homem e da mulher, para o bem dos homens. É para este "princípio" que Cristo chama a nossa atenção, quando os fariseus tentam deturpar-lhe a estrutura (Mt 19, 3-12).  Não  foi  dado  aos  homens  o poder de mudar o projecto original do Criador.

A Exortação Pós-sinodal Familiaris consortio aprofundou notavelmente os deveres específicos da instituição familiar de que já falava a Constituição conciliar Gaudium et spes.

Toda a família deve ser uma verdadeira comunhão de pessoas "communio personarum" no respeito de cada um daqueles que a compõem. Neste contexto de mútua compreensão se coloca o "serviço à vida", segundo os dois significados complementares, unitivo e procreativo, da sexualidade, como ensinou o meu venerado predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, na Encíclica Humanae vitae.

3. Para a consolidação progressiva da consciência, por parte da família, da sua missão na Igreja e na sociedade contribuiram numerosos acontecimentos, que nestes anos viram a participação cada vez mais numerosa de famílias. Penso, por exemplo, nos Encontros Mundiais de Roma, na ocasião do Ano Internacional da Família em 1994, no encontro do Rio de Janeiro em 1997 e no do Jubileu das Famílias, no ano passado. Agradeço ao Senhor por este crescimento de autoconsciência que a família ofereceu de si mesma e da sua missão.

Todavia, ao lado das consoladoras metas alcançadas, é necessário registar a agressão violenta (cf. FC, 46) por parte de alguns sectores da sociedade moderna à instituição familiar e sua função social. Viram a luz alguns projectos de lei não conformes com o verdadeiro bem da família fundada sobre o matrimónio monogâmico e com a protecção da inviolabilidade da vida humana, favorecendo a infiltração de perigosas sombras da "cultura de morte" no interior do lar doméstico.

Também suscita preocupações a crescente divulgação nos fóruns internacionais de falsas concepções da sexualidade e da dignidade e missão da mulher, subjacentes a determinadas ideologias sobre o "género" ("gender").

Que dizer, depois, da crise de tantas famílias divididas, das pessoas isoladas e da situação das chamadas uniões de facto? Entre as perigosas estratégias contra a família está também a tentativa de negar dignidade humana ao embrião antes de ser implantado no seio materno, como também o atentar contra a sua existência com métodos variados.

Quando se fala da família, não se pode deixar de apontar para os filhos, que de  diversos  modos  são  vítimas  inocentes das comunidades familiares desarticuladas.

4. Neste panorama, apenas delineado, ressalta quanto é necessária a missão das famílias cristãs. O seu exemplo de alegria e de doação, de esforço e de capacidade de sacrifício, nos passos da Santa Família, pode resultar decisivo para encorajar outros núcleos familiares a corresponder à graça da sua vocação. Como arrasta, efectivamente, o modelo de uma família cristã! Na sua humildade e simplicidade, o testemunho de vida doméstica pode tornar-se um veículo de evangelização de primeira ordem. Para isto, é bom que lhe dediquem atenção e cuidado as diversas instituições eclesiais. Igualmente, não deixem de oferecer o necessário apoio às situações familiares difíceis, que exigem uma maior assistência pastoral, como por exemplo os divorciados que voltaram a casar. Pode dizer-se que, depois da publicação da Familiaris consortio, se acentuou na Igreja o interesse pela família, e inumeráveis são as Dioceses e as paróquias em que a pastoral familiar se tornou objectivo prioritário. Vão-se difundindo associações e movimentos em favor da família e da vida. Pessoas de boa vontade contribuem, com o seu generoso esforço, para a formação de uma nova cultura "pro-vita". Recordo com grande apreço aqui os Encontros promovidos pelo vosso Pontifício Conselho durante estes dois decénios. Em primeiro lugar, o realizado com os Bispos responsáveis da pastoral da família e da vida em toda a Igreja, que se tornou uma valiosa ocasião para aprofundar as novas problemáticas familiares.

De especial importância é o diálogo com políticos e legisladores à volta da verdade da família fundada sobre o matrimónio monogâmico e a dignidade da vida desde o primeiro instante da sua concepção. A esse respeito, os Encontros continentais e nacionais promovidos pelo vosso Pontifício Conselho abriram prometedores caminhos de diálogo, capazes de infundir espírito cristão aos debates parlamentares e às legislações públicas que regulam a vida dos povos. A própria Carta dos Direitos da Família, publicada  em  1983,  já  tinha  sido  pedida  no  decurso  do  Sínodo  ordinário de 1980.

5. "Família, acredita naquilo que és; acredita na tua vocação de ser sinal luminoso do amor de Deus". Repito-vos hoje estas palavras que pronunciei no decurso do Encontro com as Famílias, em 20 de Outubro do ano passado.

Família, sê para os homens do nosso tempo "santuário da vida". Família cristã, sê "igreja doméstica", fiel à tua vocação evangélica. Propriamente porque "consciente de que o matrimónio e família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade, a Igreja quer fazer chegar a sua voz e oferecer a sua ajuda a quem, conhecendo já o valor do matrimónio e da família, procura vivê-lo fielmente, a quem, incerto e ansioso, anda à procura da verdade e a quem está impedido de viver livremente o próprio projecto familiar" (FC, 1).

A família, quando vive em plenitude as exigências do amor e do perdão, torna-se baluarte seguro da civilização do amor e esperança para o futuro da humanidade.
Com a força desta consciência, continue o vosso Dicastério a trabalhar cada vez com maior coragem no serviço do Evangelho da Família.

Enquanto faço votos pelo pleno sucesso do vosso Congresso, asseguro a minha lembrança na oração e, invocando a especial protecção de Maria, Regina Familiae, a todos concedo do coração uma especial Bênção Apostólica.

Vaticano, 22 de Novembro de 2001.

 

 

 



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