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MENSAGEM DO SANTO PADRE
 ASSINADA PELO SECRETÁRIO DE ESTADO
 CARDEAL ANGELO SODANO AOS PARTICIPANTES NO
XXIII "ENCONTRO PARA A AMIZADE ENTRE OS POVOS"
 EM RÍMINI (ITÁLIA)

19 de Agosto de 2002

 


Excelência Reverendíssima

Por ocasião da XXIII edição do "Encontro para a Amizade entre os Povos", o Santo Padre pede-lhe que apresente aos organizadores e aos participantes no mesmo, a sua cordial saudação, e lhes manifeste a sua profunda estima por esta importante iniciativa, que já há vários anos constitui um significativo encontro do mundo católico italiano.

O título do encontro do corrente ano "O sentimento das coisas e a contemplação da beleza" aborda um tema muito interessante. Cristo disse:  "Eu sou a Verdade" (cf. Jo 14, 6), e quem O encontrava pelos caminhos da Palestina vislumbrava nele também "o mais belo dos homens" (Sl 45 [44], 3). A singular coincidência entre a verdade e a beleza, que se realiza no Verbo que se fez homem, volta a propor-se com frequência nas representações da arte cristã suscitando, também na nossa época, o desejo de a poder encontrar novamente nas composições contemporâneas. Com efeito, neste nosso tempo, não raro o pensamento tende a afirmar que a verdade, como tal, seria alheia ao mundo da arte. Além disso, a beleza diria respeito exclusivamente ao sentimento, e representaria uma suave evasão das leis férreas que governam o mundo. Mas é mesmo assim?

Se forem bem consideradas, a natureza, as coisas e as pessoas são capazes de nos arrebatar pela sua beleza. Como deixar de ver, por exemplo, num crepúsculo de montanha, na imensidão do mar ou nos traços de um rosto algo que nos atrai e, ao mesmo tempo, que nos convida a aprofundar o conhecimento da realidade que nos rodeia? Esta verificação induziu o pensamento grego a afirmar que a filosofia nasce da admiração, jamais separada do fascínio da beleza. Também aquilo que deriva do mundo sensível possui a sua beleza íntima, que sensibiliza o espírito e o abre para a admiração. Pensemos no poder de atracção espiritual, exercido por um acto de justiça, por um gesto de perdão, pelo sacrifício em ordem a um grande ideal, vivido com alegria e generosidade.

No belo vislumbra-se o verdadeiro, que atrai através do fascínio inconfundível que emana dos grandes valores. Assim, sentimento e razão encontram-se radicalmente unidos por um apelo dirigido à pessoa humana no seu todo. A realidade, juntamente com a sua beleza, faz com que experimentemos o começo da realização e, como que, nos sussurra:  "Não serás infeliz; o pedido do teu coração vai realizar-se; aliás, já está a realizar-se".

Às vezes a beleza pode seduzir e corromper, mas esta degeneração como no-lo recorda o Evangelho representa um fruto amargo de uma escolha não oportuna que brota no coração da pessoa, porque "o que vem de fora e entra numa pessoa não a torna impura" (Mc 7, 15). Neste caso, o olhar do homem fixa-se naquilo que aparece e, negando o apelo a ir mais além, apelo este que se encontra presente em cada coisa bela, nega o seu valor de sinal e deseja possuí-la, cancelando assim, no tempo, todo o vestígio da beleza.

Santo Agostinho refere-se a esta amarga experiência nas suas Confissões, quando reconhece:  "Eu lançava-me sobre estas coisas formosas que criastes... Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós" (X, 27, 38). Porém, o Bispo de Hipona recordou que foi precisamente a beleza que o libertou desta angústia:  "Mas Vós me chamastes, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e curastes a minha cegueira. Exalastes o vosso perfume:  respirei-o e agora suspiro por Vós" (Ibidem).

O esplendor da beleza contemplada abre a alma para o mistério de Deus. Já o Livro da Sabedoria repreendia aqueles que, "através dos bens visíveis, não chegam a reconhecer Aquele que existe" (13, 1), dado que da administração da sua beleza deveriam reconhecer o seu Autor (cf. ibid., v. 3). Com efeito, "a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por comparação, chegar ao conhecimento do seu Autor" (Ibid., v. 5). A beleza possui uma força pedagógica, quando introduz eficazmente no conhecimento da verdade. Em última análise, ela conduz para Cristo, que é a Verdade. Com efeito, quando o amor e a procura da beleza brotam de um olhar de fé, consegue penetrar-se mais profundamente nas coisas e entrar em contacto com Aquele que é a fonte de toda a beleza.

Nas suas melhores expressões, a arte cristã constitui uma maravilhosa confirmação desta intuição, apresentando-se como uma homenagem da beleza transfigurada, que se torna eterna com o olhar da fé.

Os ardorosos bons votos do Sumo Pontífice são formulados para que o próximo Encontro para a Amizade entre os Povos possa contribuir para difundir aquele novo modo de considerar o que Jesus ensina. Desta forma, a arte pode tornar-se um instrumento de evangelização, ajudando a promover uma renovada estação missionária.

Além disso, o Papa faz votos a fim de que este Encontro constitua para todos os participantes uma preciosa ocasião de comunhão na caridade, de crescimento na fé e de contemplação de Deus, Beleza verdadeira e sobrenatural.

Com esta finalidade, ele assegura a lembrança na oração e, invocando a intercessão maternal de Maria, Tota Pulchra, envia a Vossa Excelência, aos promotores, aos organizadores e a todos os participantes no Encontro, uma especial Bênção apostólica.

Acrescento os meus votos pessoais para o bom êxito desta manifestação e aproveito esta circunstância para confirmar as minhas expressões de distinto respeito.

Seu, devotíssimo no Senhor,

 

Card. Angelo SODANO
Secretário de Estado



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